O grupo As Marias da Graça procura o estilo circense no espetáculo Tem Areia no Maiô. Foto Murillo Meirelles

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 12.03.1994

 

 

 

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Humor para qualquer público

No tempo em que os escândalos aconteciam com razoável intervalo de tempo, os Dzi Croquetes chocavam a plateia do Teatro da Praia quando diziam: “Nós não somos homens, nós não somos mulheres, nós somos gente, iguais a vocês.” Guardando as devidas proporções, As Marias da Graça, estrelas do espetáculo Tem Areia no Maiô, não possuem ainda a artificiosa torpeza do clown, nem os gestos largos e a voz potente dos palhaços. Conseguindo um meio-termo entre um e outro gênero, essas pin-ups circense inauguram nova linguagem.

O roteiro de Denise Crispun leva as palhaças à praia, seguindo etapas que poderiam ser cumpridas por qualquer família numerosa e bem-humorada. A confusão para entrar no carro, a epopeia do percurso, as brincadeiras na areia, os perigos do mar, a inevitável tempestade no final do dia e a volta para casa são temas bem desenvolvidos, ficando apenas tênue o elo de ligação entre as cenas. A deficiência evidencia quando o elenco acrescenta algumas falas a ação, de maneira bastante insegura.

A direção de Beto Brown, mesmo se abstendo de criar um fio condutor mais firme para o espetáculo, concebe no geral cenas criativas e de muito bom-gosto. Detalhes como as lanternas que se acendem no palco escuro, para dar a ideia de passagem por um túnel, ou o radinho de pilha fora de sintonia, que é mudado de posição até entrar na estação, ou o jogo de frescobol onde só a bola se movimenta, são achados de teatralidade. Também muito bem colocadas, as músicas da trilha sonora incluem, entre outros, Roberto Carlos, Elza Soares e Rita Pavone, sem apelos ao kitsch.

Rui Cortez veste as Marias com trajes de banho grafados, que muito se assemelham às roupas das bonecas de papel. Respeitando a personalidade de cada tipo, o maiô é uma versão praia do que a personagem veste no dia-a-dia. O efeito é surpreendente.

No elenco – reunido a partir do curso de clown com o ator argentino Guilhermo Angelelli, do grupo El Clu Del Claun – Ana Luisa Cardoso é Margarita, uma noiva pouco convencional, que se destaca, junto com a elétrica Shoyo, de Verinha Ribeiro, pelo fino humor. Marta Jourdan (Matilda) e Karla Conká (Indiana) usam um tom mais circense nos gestos e na comunicação com a plateia. Geni Viegas (Mafalda) lembra os personagens de Jacques Tati, pela concepção displicente, e Isabel Gomide (Severa), num tipo pouco definido, sai-se bem coadjuvando o resto do grupo.

Tem Areia no Maiô dá a impressão de não ser dirigido com prioridade ao público infantil, mas isso não impede que a peça agrade as crianças. Algumas frases, como a da banhista que é atacada no mar por um tubarão e conta a experiência às amigas com um prazeroso e dúbio comentário, ou gírias anacronicamente lisérgicas, do tipo “ih, bateu”, tem retorno apenas no riso dos adultos. A plasticidade das cenas e o colorido do conjunto, porém deliciam o público, seja de que idade for.

Tem Areia no Maiô, está em cartaz no Teatro Delfin, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$1.500.

Cotação: 2 estrelas (Bom)