Crítica publicada no jornal O Globo
Por Rita Kaufman – Rio de Janeiro – 26.04.1985


Ousadia e Bom Gosto na Adaptação de Shakespeare

O Inacen está promovendo uma campanha de incentivo ao teatro para crianças, numa rota de quatro teatros ocupados pelo instituto e que estão próximos da estação do metrô. Um deles é o Glauce Rocha, apresentando Sonho de Uma Noite de Verão, produção que merece ser prestigiada pelo público.

O esforço de montar para crianças um texto clássico de Shakespeare, tentando, na medida do possível, o máximo de fidelidade ao original, sem apelações tão comuns nas peças infantis, já é por si só, meritório.

Com 16 atores em cena sob a direção de Moacyr Góes, o texto é adaptado por Lenita Plocinsky, com um belo trabalho de programação visual de Edgard Bandeira. Sonho é uma produção audaciosa, em que não faltam a direção corporal (Helena) e a boa iluminação de Maneco Quinderé. Ousar é bom e, no decorrer deste ou de outros trabalhos, o grupo vai se definir melhor, se entrosar.

Os três mundos (o mágico, o dos palácios e o dos trabalhadores), histórias que correm paralelas, estão ainda bem confusos: mas os atores conseguem despertar o interesse da plateia nas personagens apaixonantes de Shakespeare, como Oberon e Titânia (reis das fadas), o irrequieto duende Puck e os apaixonados Helena, Lisandro, Hérmia e Demétrio. E muito contribuem para prender o interesse da plateia os cenários e figurinos de João Gomes do Rego, bem coloridos e de bom gosto.