Cia Teatro Medieval: peça baseada na cultura indiana


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro RJ – 03.12.1994

 

 

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Magia teatral do Oriente

A Cia de Teatro Medieval, responsável pela montagem de Shakuntalá – O Anel Perdido, é um desses casos raros de parceria e colaboração que deram certo. O núcleo produtor, formado pelo quarteto Heloísa Frederico (tradução e coordenação de pesquisa), Márcia Frederico (adaptação), Ricardo Venâncio (direção, cenários e figurinos), e Marcos Edon, no controle geral dos talentos, decola seu quinto espetáculo com todos aqueles atributos que os fizeram conhecidos. Como nos trabalhos anteriores, Shakuntalá, também passou por várias etapas de pesquisa de texto, gesto, instrumentos musicais e até de cor para chegar ao palco.

Desta vez, o autor escolhido é Kalidasa e o ambiente a Índia do século V. Sem prejudicar o clima onírico do original, a adaptação de Márcia Frederico privilegia o entendimento do enredo pelas crianças da plateia, criando um substancial fio condutor para cenas bem delineadas.

Ricardo Venâncio, num tour de force, assinando direção, cenografia e figurinos, concebe um espetáculo de afinados elementos. A mistura delicada de sedas indianas com tecidos locais , os bonecos, também vindos de outras terras, junto com os adornos e adereços, reproduzidos por diferentes artesãos, contribuem na criação do requintado ambiente. Os cenários que reproduzem detalhes, da arquitetura da cidade de Jaselmer e a utilização de símbolos da fertilidade, como os grãos e sementes que se espalham no palco, dão o toque final na proposta do artista.

A dança e a preparação gestual criado por Susane Travassos têm na música composta especialmente para a peça por Chandra Many, em colaboração com Alexandre Loureiro e Ricardo Pena Haikal, perfeita integração.

No elenco, revestindo sua performance de humor e feminilidade, Márcia Frederico é Talarika, a ama protetora de Shakuntalá, interpretada por Rachel Libório. A figura frágil da atriz é um excelente contraponto ao imponente príncipe Dushyanta de Ricardo Venâncio, Eduardo Andrade aposta no gestual jocoso com propriedade, e José Mauro Brants se reveza em diversos papéis, criando tipos interessantes. Shakuntalá – O Anel Perdido é uma encenação atraente de elementos bem combinados, envolvendo a plateia, não só com a magia do Oriente, mas com a do próprio teatro.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)