O musical infantil supera o livro em que é baseado, com o acréscimo de cenas que se revelam o melhor da versão teatral

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 05.03.1994

 

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Uma adaptação alegre e criativa

Não são poucas as queixas dos escritores, quando veem seus livros transpostos para o palco. Mutilação da obra, empobrecimento dos diálogos e subversão das mensagens são as mais comuns. No caso de O Manto do Rei, porém, autora Maria Helena Hess Alves deve ter se surpreendido com a adaptação realizada pelo grupo Era só o Que Faltava. Porque, nesse caso, a peça supera o livro.

Para a história do rei que vivia contemplando a estrelas, até conseguir um manto feito de um pedacinho do céu, manto que depois é roubado, o que obriga o monarca a sair por suas terras à procura da real vestimenta, foram criadas cenas extras que se tornaram o melhor do espetáculo. A primeira parte, toda passada no palácio, segue um enredo linear, num ritmo lento e previsível. Entretanto, quando o rei se aventura pela aldeia, em contato direto com os mais diferentes trabalhadores do seu reino, a encenação alcança momentos de extrema criatividade.

As músicas de Cléo Boechat são verdadeiros achados cênicos. Com letras bastante ilustrativas, o rap da construção civil e as canções das lavadeiras e dos lavradores surpreendem pela adequação e qualidade.

No elenco, sem dúvida nenhuma, as mulheres ficam com a melhor participação. Fernanda Seixas e Letícia Alves, coringando diversos papéis, inclusive masculinos, se destacam em composições bem-cuidadas. A Tatiane France, no entanto, falta a ousadia de suas companheiras. Thelmo Fernandes carrega no tom recitativo do Rei e Leonardo Saboya alcança alguns bons momentos no Bobo da Corte.

A ausência de cenários é perfeitamente contornada pela eficiente iluminação de Djalma Amaral. Numa profusão de movimentos, os mais diversos ambientes são criados, sob o olhar atento do espectador. Também muito interessantes, os adereços cenográficos de Patrícia Borsói trazem ao palco um rio, a lua dos astronautas ou uma plantação de café perfeitamente identificáveis. Já seus figurinos seguem uma linha desigual.

O Manto do Rei, mesmo mantendo uma unidade em sua concepção, é um espetáculo que será lembrado por excelentes momentos isolados. E por estes vale a ida ao teatro.

O Manto do Rei está em cartaz no Teatro Gláucio Gill, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$1.000.

Classificação 2 estrelas (Bom)