Com elenco inexperiente, mal orientado pela direção, e cenários e figurinos pobres, A República das Saúvas não prende atenção dos espectadores

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 30.04.1994

 

 

 

Barra

Adaptação confusa e repetitiva

Uma lenda que corre por aí diz que quando um teatro não tem público, é porque está enterrada uma caveira de burro. Alguns responsáveis pelas casas de espetáculos, porém, colaboram para reforçar essa lenda, promovendo a evasão da plateia só escolherem pouco criteriosamente o que deve ser apresentado em seu palco. A República das Saúvas, em cartaz no Teatro da Barra, é sem dúvida um marco desastroso para a casa, que pode inclusive prejudicar a carreira dos próximos espetáculos que por lá se apresentarem.

Embora de estrutura frágil, propositadamente didático e com algumas inserções de preconceito explícito – nas siglas dos partidos do formigueiro, por exemplo, o PT é o
partido do tamanduá, animal que, convenhamos, não é dos mais apreciados pelas formigas -, o texto de Arnaldo Niskier (editado pela Consultor, com ilustrações de Maurício de Souza) consegue ser mais interessante do que a história confusa apresentada na adaptação de Gil Ramos.

O livro conta a história das formigas operárias da República das Saúvas, que resolvem protestar contra a boa vida das rainhas. Assim, declaram uma greve geral, exigindo que as majestades também peguem no pesado. Para contornar a situação, o presidente Belo realiza um plebiscito, no qual o sim e o não empatam, com exatos 1.568 votos cada um. A solução conciliatória é deixar tudo como era antes. Para os festejos, música e dança.

Gil Ramos reduz a seis formigas as muitas do livro, e tenta dar uma característica marcante a cada uma: operário, professora etc. Na maioria dos casos, consegue seu intento. Mas, inexplicavelmente, a formiga Geovana, no original uma feminista de carteirinha, é apresentada na peça como uma saúva de – digamos – de vida fácil. Um estereótipo lamentável. Para incrementar a trama, são colocados em cena dois tamanduás, que pretendem derrubar o plebiscito, e um apresentador de TV que se limita a espantar mosquitos.

A direção, também de Gil Ramos, em nada auxilia o jovem e inexperiente elenco a se colocar no palco com algum atrativo. Cenas longas e de texto repetitivo acabam levando a plateia a um estado de sonolência incontrolável. A ponto de um dos atores, Washington Motta, em plena ação se surpreender com o espectador acordado: “Não está dormindo? Todos os que sentam nesta cadeira da ponta dormem.” Os cenários de Maria Isabel Espinoza e os figurinos de Hélio Ferreira contribuem para o empobrecimento visual do espetáculo, comprometendo ainda mais a encenação.

A República das Saúvas ocupa o palco de um teatro comercial, mas estaria mais convenientemente instalada em salas particulares, onde a encenação, sem dúvida, seria apreciada pela família e pelos amigos sem maiores constrangimentos.

A República das Saúvas está em cartaz no Teatro da Barra, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$ 3.000.

Cotação: Bola preta (Ruim)