Peteca, Pião e Pique-pessoa. Foto: Layane de Souza Machado (IFRS Alvorada)

Peteca, Pião e Pique-pessoa. Com Viviane Juguero e Éder Rosa. Foto: Layane de Souza Machado (IFRS Alvorada)

Peteca, Pião e Pique-pessoa. Foto: Wagner Madeira

Peteca, Pião e Pique-pessoa. Foto: Wagner Madeira

Peteca, Pião e Pique-pessoa. Foto: Wagner Madeira

Peteca, Pião e Pique-pessoa. Foto: Wagner Madeira

Peteca, Pião e Pique-pessoa. Foto: Pedro Almeida Novaes (IFRS Alvorada)

Tema para a dramaturgia do futuro: o presente (01)

A Associação Internacional de Teatro para a Infância e Juventude convidou artistas a refletirem sobre o futuro do teatro para crianças, com base no tema “imaginando o futuro”. Inspirada por este questionamento, escrevi este texto e criei o argumento original da peça Peteca, Pião e Pique-pessoa, novo trabalho do Bando de Brincantes que contou comigo (dramaturga, compositora, diretora e atriz), Éder Rosa (ator e criador de materiais cenográficos) e Jorge Rein (coautor do texto), na equipe de criação (02).

Na Antiguidade, a dramaturgia era baseada em mitos e lendas ancestrais, já que o conhecimento era entendido como fruto do passado, vinculado à sabedoria dos anciãos. Nos tempos recentes, a situação se inverteu, e o tema central passou a ser as maravilhas do futuro, associadas à idealização da juventude, à ampliação da produtividade, ao individualismo e ao desejo de prosperidade, em um anseio permanente por um amanhã melhor.

O que podemos desejar para a dramaturgia do futuro? Um tema promissor, talvez seja, finalmente, viver o presente plena e intensamente, em situações colaborativas. Poderia a dramaturgia contribuir para a transformação dos princípios culturais que são a raiz das emoções que geram as ações? Para o futuro do teatro para crianças e jovens, o que almejo é uma dramaturgia do presente, fundamentada no amor.

Peteca, Pião e Pique-pessoa surge do impacto que a reflexão proposta pela ASSITEJ proporcionou. O tema central é a relação com o tempo no momento presente, sem, no entanto, haver referências sócio históricas que localizem a ação em tempo e espaço precisamente determinados. Essa abertura viabiliza que a identificação possa ocorrer em diferentes realidades socioculturais. A narrativa consiste em uma estrutura de metalinguagem que aborda a história narrada e o ato concreto de sua narração, abarcando reflexões, dúvidas e afetos dos narradores em relação àquilo que contam.

Em cena, Peteca e Pião apresentam a história de Pique-pessoa, alguém que está sempre procurando uma saída para ser feliz no futuro, sem conseguir vivenciar plenamente o presente. A figura de Pique-pessoa é masculina e feminina, intepretada tanto pelo Peteca quanto pela Pião, que a representam quando vestem uma cartola que identifica a personagem. A ideia está vinculada ao dito popular de “vestir o chapéu”, que significa o ato de alguém se identificar com a questão abordada naquele momento. Assim, qualquer pessoa pode se sentir como Pique-pessoa em algum instante.

Em Peteca, Pião e Pique-pessoa existe a intenção de que o processo de vivenciar o presente seja reconhecido no aspecto artesanal das singularidades afetivas de cada relação humana. Nesse sentido, o trabalho foi criado com base em vários brinquedos tradicionais brasileiros. Essa opção nada tem a ver com a idealização desses objetos em detrimento dos jogos virtuais surgidos recentemente. Essa polarização seria redutiva e nada afetiva, já que videogames, telefones celulares e tablets integram as experiências emocionais, cognitivas e perceptivas da maioria das crianças na atualidade. Reflexões críticas são bem-vindas, mas precisam estar associadas a cada contexto, resultando em construções dialógicas que não estejam embasadas em verdades pré-estabelecidas. Assim, longe de incentivar qualquer rivalidade com brinquedos modernos, Peteca, Pião e Pique-pessoa tem a intenção afetiva de desvelar a novidade de jogos antigos, frequentemente desconhecidos das crianças de hoje ou apresentados de maneira tão organizada e didática que perdem o gosto da descoberta. Brinquedos artesanais deixam transparecer a particularidade de cada construção. Esse processo emana do objeto e aumenta a percepção das experiências do presente. Além disso, os brinquedos tradicionais resultam na integração de diferentes gerações, como pudemos constatar em experiências anteriores, nas quais diferentes gerações que cantaram juntas e se sentiram identificadas com as cantigas tradicionais de “Canto de Cravo e Rosa” (03) e com os jogos e trocadilhos de “Quaquarela” (04).

Peteca, Pião e Pique-pessoa dá continuidade e amplia um caminho construído há mais de uma década. A peça objetiva proporcionar um momento divertido e envolvente de fruição artística, assim como sugerir caminhos para a construção de novas percepções e reflexões. Cenas de alegria, tristeza, descoberta, decepção, afeição, dúvida, solidão e cumplicidade integram esse grande jogo que deseja dialogar com crianças sobre o presente, por meio de uma experiência intensa e afetiva aqui e agora.

Viviane Juguero é membro do CBTIJ/ASSITEJ Brasil. É pesquisadora acadêmica e está em fase de conclusão de seu doutorado, realizado no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAC/IA/UFRGS), sob a orientação de João Pedro Gil. No período compreendido entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019, está realizando parte de sua investigação por meio do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) na University of Wisconsin-Madison, sob a supervisão de Manon Van de Water.

Notas

(01) Este texto foi originalmente publicado em inglês e mandarim, na Revista da ASSITEJ (páginas 32 a 35) lançada em agosto de 2018, em encontro internacional na China. A publicação original pode ser acessada no link http://www.assitej-international.org/en/2018/08/the-2018-assitej-magazine-is-ready-for-you/
(02) Maiores informações sobre a montagem e ficha técnica no link http://www.bandodebrincantes.com.br/?pg=11204
(03) A esse respeito, ver https://cbtij.org.br/bando-de-bricantes-um-caminho-dialetico-teatro-para-criancas-capitulo-3/ e http://www.bandodebrincantes.com.br/?pg=11212
(04) Sobre esse trabalho, ver https://cbtij.org.br/bando-de-bricantes-um-caminho-dialetico-teatro-para-criancas-capitulo-05/ e http://www.bandodebrincantes.com.br/?pg=11203