Entrevista
1) Tanto a CBTIJ quanto a ASSITEJ trabalham também no âmbito da produção teatral para o público infanto-juvenil (principalmente para o público adolescente)?
As duas entidades são fomentadoras de informação, valorização e intercâmbio do teatro para crianças e jovens. A ASSITEJ, quando realiza encontros, seminários e congressos, também produz mostras internacionais, sempre com o apoio da Assitej do país onde acontece o evento. O CBTIJ, que é a ASSITEJ – Brasil, pretende em breve realizar um Festival, e para isso acontecer, estamos buscando parcerias.
2) Você teria mais dados sobre a ASSITEJ – ano de criação, chegada ao Brasil,ou um contato com alguém de lá (se houver uma sede em algum lugar).
Você pode encontrar maiores dados sobre a ASSITEJ no site: www.assitej.org que está “lincado”, no do CBTIJ www.cbtij.org.br
Em relação ao Brasil, o contato é antigo, mas com a criação do CBTIJ, se oficializou a ASSITEJ no Brasil, em 1998.
3) De que forma o teatro é usado como elemento para o desenvolvimento do trabalho descrito no site? O que exatamente vocês quiseram dizer com “dignidade profissional nesta área e de desenvolvimento da infância através do Teatro” (palavras encontradas no site do CBTIJ).
As condições dadas aos profissionais que trabalham em teatro para crianças são, em geral, inferiores às oferecidas ao do teatro adulto.
A começar pelo valor dado aos prêmios, patrocínios e cachês oferecidos nesta área. Também o espaço conseguido na imprensa é sempre infinitamente inferior ao das produções de teatro adulto. Muitas salas de espetáculos, inclusive do governo, não abrem seu espaço para espetáculos para crianças. Nos teatros em que existe esse espaço, em geral, as produções são obrigadas a se sujeitar a um espaço reduzido no palco, na fachada do teatro, a um número inferior de refletores, de camarins, etc
Acreditamos que o CBTIJ interferindo nestas questões, possa auxiliar na conquista de uma igualdade de tratamento dos profissionais que trabalham para as crianças
O desenvolvimento da infância pode ser visto de diversas maneiras. Quando reivindicamos igualdade dos profissionais dentro dos teatros e o valor das produções, prêmios, atrocínios, etc. a primeira beneficiada é justamente a criança que desfrutará de espetáculos à altura de sua sensibilidade e inteligência, em espaços melhores, mais adequados e produções com maior qualidade.
Quando falamos em espetáculos de qualidade, imaginamos profissionais que pensam a criança como cidadão de primeira categoria, encaram o teatro como a arte mais próxima do universo infantil pelo jogo simbólico que ele desperta, podendo através de seus espetáculos contribuir para o desenvolvimento de cidadãos mais críticos e participativos em nossa sociedade.
Portanto o CBTIJ interferindo em políticas do desenvolvimento do teatro junto a governos. imprensa e entidades particulares, bem como, na organização e na informação de seus associados, contribui para a dignidade tanto do profissional de teatro, quanto à da criança no Brasil.
4) Como você avalia a produção teatral voltada para o público adolescente? Existem bons textos, bons profissionais envolvidos, está tudo muito amador?
A adolescência é uma “invenção” deste século, portanto o que se faz hoje em teatro, cinema ou televisão para os jovens, possui ainda um espectro reduzido, se comparado com a influência cultural que o jovem hoje já exerce em nossa sociedade.
Alguns profissionais têm se preocupado em direcionar suas produções a esse público, mas se pensarmos que ele é resultado de uma política que pouco valoriza a infância e o que é culturalmente a ela dirigida, temos jovens que não chegam a formar um habito e gosto pelo teatro, e logo não tendo um público formado são poucas as opções oferecidas aos jovens.
5) O teatro adolescente parece sofrer com uma “negligência” da qual não se acha a procedência. Temos peças adultas e um bom número de produções infantis. Ao público adolescente reservam-se montagens esporádicas e, quase sempre, ligadas a campanhas sociais, como gravidez, drogas ou AIDS. Teatro feito
por/para esse público como bem cultural é raro encontrar. Você concorda com isso? Qual a sua opinião? Na resposta acima, assinalamos esse círculo vicioso: Pouca formação, poucas produções, poucas opções, logo pouco público.
6) Por outro lado, o teatro para adolescentes poderia ter uma produção até que considerável porém concentrada num circuito mais “underground” e longe dos olhos do grande público. Seria esse o caso? Grande público não é uma característica do teatro. Seja para crianças, jovens ou adultos, portanto pela própria maneira de como essa arte é feita aqui no Brasil. Ela é sempre underground (é óbvio que estamos nos referindo a um teatro, com alguma preocupação sócio-cultural e não ao “teatro comercial”).
Cabe a sociedade como um todo a consciência da função social desta arte, forçando o governo a ter uma política afirmativa em relação à criança e ao jovem e não permitindo, por exemplo, que produções de altíssimo nível feitas para esse público, depois de dois meses em temporada, saia de cartaz, quando poderia continuar beneficiando culturalmente escolas e outras comunidades.
7) Você conhece profissionais que trabalhem mais especificamente nessa área? Quem seriam essas pessoas (teria o contato delas?)
Em geral, quem faz teatro para crianças, também faz para adolescentes e adulto. Neste país, uma especialização é muito difícil, mas o CBTIJ se propõe a reunir profissionais que mais constantemente realizam teatro para crianças e jovens. Em breve estaremos abrindo um chat para facilitar o encontro e discussão das pessoas interessadas nesta área.
8) Explique um pouco melhor o trabalho realizado com os governos e outras
instituições.
Periodicamente, o CBTIJ se reúne com órgãos e entidades governamentais, sempre que alguma política discriminatória é aplicada em relação ao teatro para crianças e jovens. Além de fornecer informações e sugestões para a ampliação da política cultural nesta área, inclusive em época de eleição, elabora documentos com princípios e ações que possam influenciar as futuras gestões.
Estamos sempre procurando ações que possam ligar o CBTIJ com entidades não governamentais que lutam pelos direitos da infância e adolescência, pois consideramos que esta situação de desvalorização não é exclusiva do teatro, mas faz parte do contexto, de como a criança e o adolescente são tratados no Brasil.
(*) Entrevista realizada com Antonio Carlos Bernardes e Alice Koënow, do Conselho de Administração do CBTIJ, para a Revita E, em abril de 2005.