Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 29.09.1984

Um espetáculo encenado pelos veteranos Marlene Santos e Paulino Raffanti tem, sempre, a garantia de uma qualidade artesanal, já que a experiência nesse setor, lutadores que são há tantos anos, lhe permite aproveitar os recursos, nem sempre muito grandes, para uma montagem bem feita. Desbravadores de espaços para o teatro infantil estão mantendo no Brooklin, bairro sem teatros, o Teatro Salete, que eles obtiveram e adaptaram para o público jovem. Depois da primeira peça Os Dois Fantasminhas que continua em outros teatros, estão, agora encenando mais uma peça de Telassim Rodrigues (pseudônimo literário de Marlene Santos), A Sereiazinha, que, depois do Teatro Salete, deverá correr as Bibliotecas e teatros municipais.

A autora vem-se utilizando dos contos tradicionais infantis para suas peças. Assim, personagens conhecidos como Branca de Neve, Gato de Bodas, Alice, já foram motivo do antigo grupo, hoje Palma Produções Art´siticas. No atual texto há um aproveitamento de várias histórias, a partir da figura mitológica da Sereia, nãociomo aparece na mitologia grega (onde eram três filhas do Rio Aquelô e da musa Calíope), cabeça de mulher e corpo de pássaro, mas na forma criada pelos navegadores do séc. XVI, uma bela mulher com cauda de peixe e que Andersen imortalizou nas histórias infantis a ponto de se tornar o símbolo de Copenhague, cidade onde viveu. Outra história é a do cometa que aparece de mil em mil anos e que, aprisionado numa garrafa por meio de palavras mágicas, tornaria seu possuidor o homem mais poderoso do mundo, copisa que o Bruxo tenta realizar. Mas o que há de novidade, na peça, é que essas histórias maravilhosas se dão num contexto de nossa cultura caipira e, ainda que se utilize do sonho como explicação, o final deixa uma dúvida sobre a sua realidade.

A integração das histórias está bem feita. A autora conhece a estrutura dramática e não teve dificuldades em lidar com personagens reais, os caipiras, e os fantásticos, o Bruxo, o Gnomo, a Sereia. O nosso homem rural, felizmente, ainda que engraçado, não é tratado de forma caricatural. Paulino Raffanti dirigiu o espetáculo sem dificuldades, solucionando os problemas decorrentes da utilização da fantasia de forma simples, mesmo sem contar com grandes recursos técnicos. O cenário teatralista e ios figurinos, de Pasulino e Marlene respectivamente são funcnais.

O elenco com Liliam Vizzachero fazendo uma bonita Sereia e Claudio Gardin um simpático Zezinho, bem coadjuvados, por Valdemir Bellei (um pouco alto para o Gnomo) e Paulo Camargo, em vários papéis, realiza um espetáculo que é uma boa diversão para o público jovem.