A formação de um educador não pode se dar apenas através da aquisição de conhecimento pedagógico, ou de acumulo de conteúdos a serem transmitidos, ou tão pouco de armazenamento de técnicas metodológicas. Não que isso tudo não tenha grande importância e relevância num processo pedagógico.
Mas e a sensibilidade?
Como um educador pode transmitir conhecimento se não possui sensibilidade para tanto? Quando dizemos sensibilidade não nos referimos à capacidade de se emocionar assistindo a um bom filme, admirando uma obra plástica ou ainda ouvindo uma bela música. Mas nos referimos à capacidade de perceber o outro e os diversos caminhos, muitas vezes tortuosos, que cada indivíduo traça no desenvolvimento de sua personalidade e na formação de sua peculiar forma de interpretação do mundo e do conhecimento que lhe é transmitido.
Clarice Lispector vislumbra, numa crônica publicada em 02 de novembro de 1968, no Jornal do Brasil, RJ, a existência de uma outra forma específica de percepção:
Sensibilidade inteligente
“… apesar de admirar a inteligência pura, adio mais importante, para viver e entender os outros, é possuir sensibilidade inteligente. Inteligentes são quase que a maioria das pessoas que eu conheço. E sensíveis também, capazes de sentir e de se comover. Suponho que este tipo de sensibilidade, uma que não só se comove como por assim dizer pensa sem ser com a cabeça, suponho que seja um dom. E, como um dom, pode ser abafado pela falta de uso ou aperfeiçoar-se com o uso”.
Que instrumentos costumamos utilizar para desenvolver esse dom em nossos alunos? Pois não seria um dos papéis do educador o de estimular em seus alunos essa capacidade de percepção?
Mas como fazê-lo, se nós próprios não nos percebemos aptos a exercer essa sensibilidade?
Antes de transmitir, precisamos adquirir.
Que elementos podemos utilizar para nos conhecermos e as nossas próprias potencialidades?
É claro que o ensino convencional desenvolveu uma série de instrumentos que levam o professor a estudar meios para atingir um fim. Que normalmente é resumido numa nota no boletim escolar. São meios e avaliações específicas que nos orientam no sentido de desenvolver a capacidade lógica e racional de nossos alunos.
Mas, e a capacidade de sentir? Como estimular? E como aferir?
A arte, sem dúvida, é um dos caminhos que podem ser seguidos. O jogo teatral, a literatura, os contos de fadas, a narração de histórias, as artes plásticas, a música etc.
Bons caminhos!
Mas como trabalhá-los?
Estamos acostumados a procurar resultados, a exigir respostas prontas e únicas para nossas perguntas. No entanto, a arte pressupõe várias respostas, tantas quantas pessoas forem indagadas. Não há acerto. Nem verdades únicas. Cada um é uma verdade única!
Lidar com as diferenças assusta e amedronta. Mas aponta para um caminho de desenvolvimento de um indivíduo mais pleno.
Para sabermos que educador queremos ser, precisamos pensar em que indivíduos queremos formar?
Queremos de nossos alunos respostas rápidas e corretas ou indagações criativas e lúcidas? O que queremos?
Fátima Café
Atriz, Contadora de Histórias, Diretora Teatral e Autora, Especialização em Expressão Corporal pela Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro; especialista do Proler em narração de histórias.
Ine Baumann
Atriz e professora. Licenciada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pela Faculdade Estácio de Sá, Rio de Janeiro.
Sérgio Miguel Braga
Ator formado pela UNIRIO – Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor e produtor de teatro.
Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 8º e 9º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2004 e 2005)