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O “teatrinho” do fim de semana está deixando de ser um entretenimento sem consistência que, muitas vezes, menospreza a inteligência das crianças. Agora até nos parece distante o tempo em que víamos os pais entediados sentados em poltronas de teatro tendo que ver seus filhos responderem a um ator, que do palco perguntava numa voz que misturava súplica e animação:

– Criançada para onde foi o lobo mau?

Excetuando honrosas exceções, como Maria Clara Machado, Ilo Krugli e outros poucos grupos que se dedicavam a um teatro de qualidade, o programa teatral infantil era uma desolação.

Não digo que esse quadro tenha se modificado completamente, pelo contrário, ainda estamos longe disso.

Mas na verdade é que, de algum tempo para cá, o número de artistas que se dedica à realização de espetáculos em que a sensibilidade do público é respeitada e estimulada tem aumentado consideravelmente.

A própria iniciativa de promover o Iº Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau mostra claramente essa crescente tendência à valorização do teatro para crianças.

Então, neste momento, parece-me pertinente refletirmos sobre os temas e estilos de encenação que nós, profissionais ligados ao teatro infantil, apresentaremos ao público. Mas, para tanto, parece necessário analisarmos primeiramente o nosso público.

Trabalhamos para uma platéia totalmente heterogênea, tanto em grau de desenvolvimento intelectual, como cultural ou sócio econômico.

Em alguns países da Europa o teatro para a infância é subdividido em estreitas faixas etárias. Assim, temos uma peça para crianças de 2 a 4 anos, outra para as de 3 a 5, e assim por diante. Já em outros países, considera-se público apto a assistir a um espetáculo teatral crianças a partir de 8,9 anos, deixando os que ainda não atingiram essa idade à margem.

Essa especialização que divide em faixas etárias o teatro infantil parece partir do princípio de que o ato teatral deve ser “entendido” racionalmente.

Daí a necessidade de um determinado grau de amadurecimento intelectual.

Mas a arte em si, a exemplo das artes plásticas, da dança e da música, não necessita ser “entendida”, necessita ser “apreendida”.

Logicamente não podemos procurar um teatro que fuja dos processos de entendimento do homem. O que podemos procurar é trabalhar com temas e encenações onde “entender” não seja a única meta.

Segundo Carl G. Jung, existem quatro formas através das quais a consciência se orienta em relação a uma experiência. Quais sejam: percepção sensorial, pensamento, sentimento e intuição. (“O Homem e Seus Símbolos”, Carl G. Jung – 1964, p.67). Então, se trabalharmos com o intuito de atingir ao público através de imagens que não estejam ligadas ao consciente, poderia passar a trabalhar com uma faixa etária muito mais ampla, incluindo, talvez até, adolescentes e adultos. Consequentemente as diferenças socioculturais também seriam anuladas.

Mas como fazer isso?

Acredito que estejamos atravessando um momento transitório entre o “teatrinho” e um teatro consistente em forma e conteúdo.

Precisamos aprofundar nossas experiências, a ponto de alcançar um “canal mágico” que leve o teatro a proporcionar experiências fortes e únicas a um público que merece todo o nosso respeito e cuidado.

Nosso público está sempre ávido e pronto a captar novos estímulos e informações, que serão por ele assimilados de forma diversa e absorvidos intensamente.

Resta-nos então, mergulhar nessas questões e propor, a cada encenação, novos caminhos para levar o nosso querido lobo mau ao lugar que tanto merece!

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Fátima Café
Atriz, autora e diretora teatral

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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 1º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (1997)