Crítica publicada no Jornal do Brasil Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 27.06.1992

 

Barra

Para ninguém pensar em mudar de canal

Tinha tudo para dar errado, estreou junto com a Rio-92, quando o badalado tema ecológico já ocupava palcos mais nobres e ainda acrescentava ao título a expressão pouco convidativa “programa de índio”. Enfim, tinha todos os ingredientes para um típico “veneno de bilheteria”.

Tv Tupã, em cartaz no Teatro Glauce Rocha, é um desses controvertidos espetáculos que confirmam não existir uma receita par o sucesso. Ele simplesmente acontece.

Do texto de Mauro César Cunha, a direção de Lenine cortou o excesso didático, ressaltando o lado bem-humorado do enredo, sem no entanto subtrair sua real intenção de levar ao público alguns toques ecológicos. Assim, o que vemos em cena é uma TV Tupã, com o delicioso improviso da extinta TV Tupi, trazendo bonecos bem manipulados, em diversas dimensões.

Apresentado pelo cacique Kari Oca, diversas atrações vão passando pela tela, numa sequencia não muito ordenada, onde foi captado todo o ridículo dos reais programas de reportagens especiais, como por exemplo a desgastada cena dos índios, supostamente em suas atividades rotineiras – andando em fila, uns com as mãos sobre os ombros dos outros – filmados por um extasiado cinegrafista, provavelmente pelo ineditismo da imagem.

No quadro seguinte, uma entrevista com o ressentido boi da cara preta, que presta seu depoimento contra a farra do mesmo e outras atrocidades carnívoras. O melhor de tudo, no entanto, fica com as externas do repórter Arara Quara, que, com seu visual de papagaio, faz na Universidade do Xingu uma entrevista com um inveterado fumante, o professor Armando Temporal, sobre o efeito estufa. Depois de algumas explicações sobre o tema, o tema, o professor, num gesto de boa vontade, resolve abandonar o cigarro e caba causando um incêndio que destrói a universidade.

Esse programa vai ao ar graças à perfeita manipulação de Vânia Penteado, Marko Ribeiro, Jorge Itaboraí e Jamir Soares, a sensível iluminação de Ajalmar Silveira, a agitada trilha sonora de Lenine e a criatividade de Mauro César. As atrações que passam pela tela desse “programa de índio” deixam marcadas as suas intenções de alertar o espectador sobre questões como poluição, extinção da flora e da fauna e desmatamento, mas isso é feito com tal bom humor que, em momento algum, se pensa em mudar de canal.

Cotação: 2 estrelas ( bom )