Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 20.06.1992
O segredo é a alma dos bonecos
O tema ecologia continua em cena e, a julgar pelas estreias previstas, parece que não vai abandonar a ribalta tão cedo. S.O.S. Selva, teatro de bonecos do grupo Bocó de Mola, do Rio Grande do Sul, chega ao palco do Teatro Glauce Rocha com uma bem cuidada produção. O espetáculo gaúcho, dividido em quadros, apresenta várias situações de agressão ao meio ambiente, sem se preocupar em definir tempo e espaço.
Assim, o índio brasileiro que navega em sua canoa observando jacarés é sucedido por uma caçada em plena selva africana, onde o colonizador inglês abate uma ave rara somente para conseguir uma de suas penas. Daí, passa diretamente para uma aldeia vietnamita, bombardeada por um helicóptero.
O tom de videoclipe em nada desabonaria o espetáculo se, além dos bonecos – aliás, muito bem feitos – seus manipuladores também não aparecem em cena. Por maior capacidade de abstração que possa ter a plateia, é impossível embarcar na magia proposta pelas belíssimas cenas apresentadas quando o seu segredo está, literalmente, sendo desvendado na frente do espectador.
Uma agradável surpresa, porém, está sendo reservada para a segunda parte do espetáculo, onde o cenário é totalmente abandonado e a utilização da luz negra faz surgir, finalmente, o inexplicável. São feiticeiros e máscaras da cultura primitiva que dançam em incrível balé, sem que se descubra o truque, aí sim, conquistando a plateia de vez.
S.O.S. Selva, com roteiro e direção de Cristina Dornelles, Eugênio Neves e Sidnei Antonieli, tem ainda o trunfo de não utilizar o diálogo. Este é substituído pela sensível trilha musical de Léo Henkin, que confere bastante ritmo a ação. Apenas o início da montagem necessita de uma luz mais adequada, para que não ficasse tão evidente a figura do manipulador. A recita é antiga, mas o segredo bem guardado ainda é a alma do negócio.
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