Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 08.08.1992
Nova versão de um herói
Existem figuras tão enraizadas em nossa memória afetiva que, muitas vezes, é quase impossível imaginá-las de uma maneira diferente daquela a que nos acostumamos, como Sherlock Holmes e sua capa xadrez, os cabelos louros da Alice, a do país das maravilhas, ou Robin Hood e sua justíssima malha verde e o seu chapéu com peninha. Quebrar as regras pode ser perigoso, mas, convenhamos, também pode ser divertido.Robin Hood – A Lenda, texto de Marcello Caridad e Marco Antonio Campos, em cartaz no teatro Tereza Rachel, é uma nova versão do arqueiro de Sherwood. Substitui o convencional líder do saltitante bando alegre pela figura de um lorde, que exerce um governo paralelo de oposição ao poder da corte. Mesmo mantendo a estrutura original da lenda inglesa, nessa nova versão Robin lidera seu bando de maneira mais democrática, permitindo que cada companheiro tenha luz própria.
A direção de Marcello Caridad e Anja Bittencourt trazem a cena um espetáculo propositalmente em tons escuros, onde os cenários e figurinos (de Ronald Teixeira) se adéquam, precisamente, a encenação. As diversas passagens acontecidas na floresta são realizadas através de módulos que deslizam pelo palco, ora se transformando numa ponte para a batalha travada entre Robin e João Pequeno, ora numa soturna caverna, onde o bando se diverte. A iluminação de Aurélio di Simone deixa as cenas, algumas vezes na penumbra.
Mas se a floresta é sombria, na corte do príncipe João brilha o humor. O soberano interpretado pelo também diretor do espetáculo mostra o ator Caridad num de seus melhores momentos. Lady Lucy oferece a oportunidade de Alice Borges exercer, mais uma vez, o seu tom histriônico de comédia, um excelente contraponto a interpretação elaborada de Regiana Antonini como Beff, e de Milton Travassos como Muth, esse último se assemelhando muito aos personagens compostos pelo hilariante Martin Feldman. A parte romântica está muito bem representado pelo casal Robin e Marian – Eduardo Moscovis e Renata Laviola – com seus longos beijos de amor e pelos charmosíssimos Allan Balle de Marco Campos, e Will Scarlet de Mário Tupinambá.
Com direção musical de Charles Khan, coreografia de Tereza Pepzold, Robin Hood – A Lendaé uma cuidada produção: os detalhes de época, como as espadas forjadas em ferro, o design das jóias e as sedas dos figurinos, foram intensamente pesquisadas. A cena final é teatro puro na alegria dos seus atores em representá-lo.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)