Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 30.01.1998
A Casa Bem Assombrada: Texto presume grande intimidade da plateia com os bastidores do teatro
Homenagem com Excesso de Amor
Com uma produção de primeira linha, um visual caprichado, 15 excelentes atores e uma direção marcante, as peça A Casa Bem Assombrada, em cartaz no Teatro Laura Alvim, dá um susto no espectador. Não pela ótima qualidade do conjunto, raramente encontrado em palcos infantis. Muito menos por conter cenas ou personagens aterrorizantes. O susto chega simplesmente quando a plateia percebe que demorou quase meio espetáculo para entender do que trata o texto. E descobrir que aqueles tipos que se movimentam pelo palco atendendo por nomes como Bambolina, Regulador ou Tapadeiras são, na verdade, as engrenagens cênicas do próprio teatro.
Em seu primeiro espetáculo infantil, a mais que ótima Companhia de Teatro Atores de Laura pecou pelo excesso de intimidade e paixão pelo teatro. Aliás, o texto de Susanna Kruger, que dividiu a direção com Daniel Herz, fala justamente desse amor através da história de um velho teatro assombrado pelo monstro do abandono. A casa e seus habitantes, a parafernália que faz o teatro funcionar, são salvos por um grupo de crianças.
A história é boa e diverte. O problema é que pressupõe, erradamente, uma plateia íntima dos bastidores do teatro. E nem todo mundo chega a ler reportagens ou programas explicativos. As Tapadeiras, por exemplo, foram tomadas por aranhas. Pode ser lúdico, porém confunde.
Mas, com alguns acertos no envio de informações, vira uma bela e ótima peça, que tanto homenageia como desperta a paixão pelo teatro.