Edson Lozano no musical infantil Pedro e o Lobo

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 30.05.1992

 

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Uma surpreendente festa musical

Diz da sabedoria popular que é sempre bom desconfiar de tudo o que vem muito explicadinho. Pedro e o Lobo, inspirado em Sergei Prokofiev e com adaptação de Crispin Jr., em cena no Teatro do SESC da Tijuca, poderia ser um desses casos, se julgado pela didática apresentação de seu diretor Luca de Lima, antes mesmo de as luzes se aparem na plateia.

Mas por uma dessas fantásticas situações de acerto que o teatro pode proporcionar, a plateia lotada de crianças irrequietas parece não tomar conhecimento do que diz aquele estranho personagem e, assim que a luz vai se apagando, está pronta pra se envolver na magia da encenação. Passado o não impacto causado pela presença do diretor, o que vem a seguir é surpreendente. Em cena, Prokofiev, representado pelo ator Fabiano Muniz, contracena com a gigantesca mão que irá tocar alguns dos instrumentos, seguida da boca que soprará outros, estabelecendo-se aí um engraçado conflito de belíssimo efeito visual.

A história de Pedro e o Lobo é contada em sua primeira parte, com cada personagem sendo representado por um instrumento musical. Posteriormente, ela é encenada ao som da Sinfônica de Londres pelos mais diversos tipos de bonecos de manipulação, fantoches, bonecos de vara, marionetes e atores, numa mistura de incrível plasticidade.

A sensível direção de Luca de Lima se revela quase cinematográfica, deixando, por muitas vezes, no espectador, a pergunta: “Como ele consegue fazer isso?” Principalmente na parte final do espetáculo, quando é apresentado um inusitado balé de notas musicais, de todos os tamanhos, que saltam em uma dançante pauta musical, arrancando aplausos da plateia. Na cena dos agradecimentos, outra surpresa. Por trás daquele mundo de personagens havia apenas quatro manipuladores.

Poderia de tentar revelar o segredo da Companhia Teatral Sia. Santa. Mas ela tem 18 anos e já sabe que dá pra desconfiar de tudo o que vem muito bem explicadinho. É ver e sonhar.

Cotação: 2 estrelas ( bom )