Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 17.10.1992
O resgate de um clássico para crianças
No começo dos anos 70, a faraônica montagem de Os Saltimbancos, no Canecão, foi uma festa para crianças e adultos. Com texto de Sérgio Bardotti, músicas de Luiz Enriquez, adaptação de Chico Buarque e tendo no elenco Grande Otelo e Miucha, entre outros, a superprodução contava ainda com um numeroso coro infantil e cenários mirabolantes. Se a peça foi um sucesso, o disco com a trilha sonora não ficava atrás. Não era raro que fizesse parte das reuniõezinhas onde se discutia a política de resistência, ficando marcado como o slogan de uma geração, o refrão “todos somos fortes”.
Com o passar do tempo, o texto se tornou um dos favoritos dos produtores de projeto-escola e de animadores de festa de aniversário. Com um reduzido elenco de quatro atores, cenários e figurinos de baixo custo, a peça funciona, mas inevitavelmente perde toda a sua força.
Os Saltimbancos, em cartaz no Teatro dos Quatro, com direção de Rogério Fabiano, é a recuperação do clássico no que ele tem de melhor. Fabiano traz a cena um vigoroso espetáculo, onde tudo funciona em extrema harmonia. Desde a simplicidade, calculada dos cenários, até o equipamento de Edson Lain, que tem sua potencialidade revelada pela delicadeza da iluminação de Jorge Gallo e André Felippe, a sempre criativa coreografia de Maria Lúcia Priolli e Rubem Gabira.
No elenco bastante equilibrado, Rubem Gabira e Nizzo Neto estão em cena ágeis e bem-humorados, sem que com isso percam as características exigidas pelo texto. Maria Lucia Priolli esbanja seu felino charme por todo o palco, tirando proveito do afinado coro infantil que completa a trupe. Como atrações a parte, a direção musical de Nelson Melin, que dá novo colorido a famosa trilha sonora, e a eletrizante atuação de Suely Franco, cantando e dançando como há muito não se via.
Com tantos atributos, a peça agrada em cheio a superlotada plateia que sai do teatro com a certeza de ter participado de um grande espetáculo.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)