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Pensar uma oficina de teatro para crianças é recorrer ao que ela possui de mais genuíno, pois o lúdico e o jogo fazem parte do universo infantil. A criança está muito receptiva para estabelecer pontes com seu imaginário, está mais livre de preconceitos que normalmente são adquiridos através das relações sociais. Dessa maneira, a utilização do corpo nos exercícios teatrais é encarada com muita naturalidade, uma vez que está habituada a ler o mundo e a construir seu conhecimento através dele.

À medida que nos tornamos adultos, vamos nos enquadrando nos moldes sociais e “perdendo” ou “esquecendo” uma certa sensibilidade. E quando nos moldes defrontamos com um trabalho dessa natureza, temos que inicialmente passar por um momento de descontração do qual a criança não necessita, pois está menos “viciada” nas convenções.

Mais do que transformar crianças em “pequenos brilhantes”, acredito que um contato com a arte teatral pode contribuir com o seu desenvolvimento nos mais diversos aspectos, tanto cognitivo quanto emocional e social. O que importa quando se trabalha teatro com criança não é a montagem de um grande espetáculo ou se ela possui talento ou não, e sem passar pelos jogos, encarando-os como exercícios de autoconhecimento. Ou seja, o que interessa de fato é o processo e não o resultado. Se a experiência foi bem vivenciada, a criança terá crescido, mesmo que isso signifique “apenas” poder se relacionar melhor com o mundo que a cerca.

A criança tem um imenso potencial a ser explorado. É um ser curioso querendo descobrir o universo, o seu universo! E nada melhor do que a arte teatral, para canalizar esse manancial e colocá-lo a serviço da criação d da descoberta.

Minha experiência em teatro com crianças está além da realização de oficinas, pois dirijo atualmente em Itajaí, a Cia. de Atores Mirins, que hoje já são adolescentes e oriundos das oficinas de teatro da Téspis (o grupo do qual participo como atriz). Esse grupo já está junto há mais de dois anos e tenho comprovado com meus companheiros, a possibilidade de realizar um trabalho a longo prazo, com muita entrega e disciplina. Não tenho dúvidas também de que, se seguirem trabalhando, poderão transformar-se em bons atores num futuro próximo, inclusive porque começaram a desenvolver um trabalho num momento em que ainda estavam muito receptivos aos estímulos e provocações.

Toda essa trajetória tem contribuído muitíssimo para suas formações enquanto indivíduos. Diante disso, me parece que tanto poderão optar por seguirem trabalhando como atores ou direcionarem tudo o que puderam experienciar para um outro foco, uma vez que certamente o que ficará de toda essa experiência é o processo. E o processo é vivo!

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Denize da Luz
Atriz, diretora e professora de teatro (Téspis Cia. de Teatro) e Presidente da Associação Itajaiense de Teatro

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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 4º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2000)