Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 14.11.1992
Nos anos 50/60, a América de Eisenhower lançava para o mundo o surto dos manuais da educação moderna. Das delícias de Summerhill – Liberdade sem Medo, lido avidamente pelos filhos ao mea culpa do mesmo autor, Liberdade sem Excesso, o tratamento de crianças e adolescentes tem sido tema dos mais diversos especialistas e tem feito de livros como Meu Filho, meu Tesouro ou como o do Dr. Spock (nenhuma referência a Jornada nas Estrelas) sucesso garantido nas melhores casas do ramo.
Draculinha – A Vida Acidentada de um Vampirinho, cartaz do Teatro Barra Shopping, é uma divertida abordagem da mãe ultra-moderna e seus especialistas maravilhosos, capazes de transformar mesmo um vampiro em algo ainda mais apavorante. O texto de Carlos Queiroz Telles e Enéas Carlos Pereira utiliza as risíveis criaturas do além para ilustrar um enredo que pode muito bem estar acontecendo num daqueles condomínios próximos do shopping. Dona Draculeta, preocupada com o desenvolvimento do primogênito, cerca o menino do melhor da vida moderna: aparelho dentário que lhe garanta uns irreparáveis caninos, uma fonoaudióloga para possíveis sibilos e toneladas de atividades extra-classe, o que acaba impedindo o vampirinho de vampirar.
A direção de Cláudio Handrey procura atenuar o cruel do texto recheando o espetáculo com bom-humor e musicalidade, sem prejudicar o enredo. O cenário de Rafael Sanches e Leonardo Mureb se adéqua perfeitamente ao super utilizado palco do teatro, garantindo a agilidade da montagem. Os figurinos e adereços da mesma dupla de cenógrafos são divertidos no cumprimento de suas funções aterrorizantes.
O elenco, bastante equilibrado, recebeu da direção o cuidado de dosar e ressaltar as potencialidades no momento exato. Em destaque a atuação de Maguinha Nattari, coringando diversos papéis com fôlego assombroso, especialmente quando interpreta uma fonoaudióloga com todos os defeitos de fala. Intrigantemente divertido.
Cotação: 2 estrelas (bom)