Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro 13.12.1992
Surpresa e malabarismos dos intrépidos
Alguns espetáculos são feitos para o público, outros com o público e outros até apesar do público. A.R.N.2, no palco e no ar do teatro Nelson Rodrigues, se insere no segundo caso. Quando as luzes se apagam e a música começa, os aéreos alucinados literalmente despencam em cima da plateia extasiada. Tudo mais que vier a acontecer já é conhecido e desejado. A intimidade com o espetáculo, ao invés de prejudicar o efeito surpresa, só reforça o brilho da performance.
O esperado quadro dos macacos que ao som de Patapata atropelam o público desmancham o penteado de comportadas senhoras e provocam gritos dos mais desinibidos, é sucesso garantido. Também aguardado com ansiedade é a performance do guarda que chega trucidando a plateia com sua plateia d’água e comandando as massas ao som de um apito. Ao contrário de outros espetáculos, onde a assistência teme a proximidade do palco, neste se deixam levar com certo entusiasmo até a cena e dela participam com prazer. De grande plasticidade, o quadro da turma da praia com jeito de Anette Funnincello e Frank Avalon, traz o som do jovem Elvis Presley para o deleite dos fãs dos sixteen. Na corda indiana, a grávida trapezista Beth Martins dá um show. Por trás da cena, a coreografia de Deborah Colker, cenários e figurinos de Gringo Cárdia, cinema de animação de Marcos Magalhães e luz de Maneco Quinderé reforçam a qualidade dos intrépidos.
A Intrépida Trupe, além das maravilhas acrobáticas que realiza, faz acontecer um fenômeno – o clima de excitação que precede a apresentação. Quarenta e cinco minutos antes de soar o terceiro sinal, trupe maior se amontoa na porta do teatro e quando as portas se abrem correm à procura dos melhores lugares, o que não impede que continuem a se comunicar, uns com os outros, mesmo à distância, comentando seus quadros favoritos. Definitivamente, um cult.
Cotação: 2 estrelas (Bom)