Matéria publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 03.05.2013
Histórias contadas a partir da arte circense
Grande e inédito festival, promovido pelo Sesc, valoriza a dramaturgia criada a parte das linguagens do circo
Carolina Garcez é responsável pela linguagem de circo dentro da Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo. Aqui, ela nos conta um pouco sobre o festival de circo que começou nesta quinta-feira (2) na cidade, reunindo 24 grupos de circo (6 internacionais e 18 nacionais) em sete unidades do Sesc na capital e no Grande ABC (Belenzinho, Bom Retiro, Itaquera, Ipiranga, Pinheiros, Santana e Santo André), para uma programação de 10 dias – até 12 de maio. Serão espetáculos inéditos, intervenções, workshops, encontros e mesas de discussão a respeito da arte circense. A mostra também prestará homenagens aos 40 anos da morte do palhaço Piolin, aos 100 anos do Circo Nerino e ao aniversário de 90 anos de Roger Avanzi, o palhaço Picolino.
Crescer: Dentro da vasta programação que mais uma vez valoriza o circo, existe este ano algum recorte específico ou algo que esteja mais em evidência dentre todas as possibilidades da arte circense?
Carolina Garcez: Em 2013, o Sesc São Paulo consolida a linguagem artística de circo dentro de sua programação de artes cênicas com a realização do Circos – Festival Internacional Sesc de Circo, que reúne espetáculos nacionais e internacionais, atividades formativas teóricas e práticas, encontros entre artistas e realizadores em circo de diferentes países. Além de difundir a arte circense por meio da programação de espetáculos, o Festival tem o objetivo de fomentar a construção do pensamento sobre circo, como arte cênica com dramaturgia própria. Nesse sentido, a linha curatorial do festival foi a dramaturgia para circo, que, em uma explicação simples, é contar uma história por meio das técnicas circenses. É quando essas técnicas estão no espetáculo não somente pela beleza plástica ou pela virtuose, mas por de fato comunicarem algo dentro da narrativa, de um modo diferente que a dramaturgia do teatro ou da dança comunicaria.
Crescer: Existe alguma estatística ao, ao menos, algum feeling de vocês do Sesc a respeito da aceitação de espetáculos circenses ou de temática circense pelo público das diversas unidades do Sesc? Ou seja, dá pra dizer que quando tem circo tem mais público?
Carolina Garcez: O circo é uma arte de grande atração popular, no sentido de que seu público passa por todas as faixas etárias e classes sociais. Na programação do Sesc percebemos inclusive que esse público é atraído pelos mais variados tipos de espetáculos de circo.
Crescer: Com sua experiência nessa área de circo dentro do Sesc, como avalia o quadro atual?
Carolina Garcez: São Paulo tem uma quantidade expressiva de grupos de circo já conceituados e que estão presentes em nossa programação mensal, por serem referência na área e pela variedade de trabalho que apresentam. Mas temos observado uma movimentação na produção artística em circo: além dos novos grupos que estão surgindo, há a criação de novos espetáculos; ou seja, os grupos também estão pesquisando, ganhando repertório. Exemplo disso é apresentação de sete estreias dentro do Circos – Festival Internacional Sesc de Circo, o que mostra que as tradições circenses continuam e estão evoluindo por meio da retomada e da valorização do diálogo estético com outras linguagens e expressões.
Crescer: Ainda a partir do que você observa nas unidades do SESC, o PALHAÇO ainda é o campeão de audiência nessa vertente, ou o público demonstra gostar mais dos números de teatro físico circenses, como contorcionistas, ginastas, malabaristas ou equilibristas? Poderia também citar quais os principais palhaços/clowns que estarão presentes na programação deste ano?
Carolina Garcez: Acredito que, diferente de ser um campeão de audiência, o palhaço é a figura que mais permeia o imaginário popular quando o assunto é circo. Nas atividades do Sesc, temos um grande público também nos espetáculos que exploram outras técnicas circenses e é muito interessante ver esse público descobrindo outras possibilidades do fazer circense. Mesmo a programação de palhaçaria do Festival é diferente: Piolin será lembrado em uma releitura de picadeiro que irá receber apresentações das ‘comedinhas’ que ele interpretava no Circo Piolin; aliás, teremos a presença do palhaço Xuxu, o último companheiro de Piolin. Picolino estará em um show músico-circense, que contará a história de 100 anos do Circo Nerino. Ainda temos o ítalo dinamarquês Paolo Nani, que apresenta de forma diferente as técnicas de clown.
Crescer: Qual a importância da convidada especial deste ano, Leila Jones – Round HouseCircus Festival (Inglaterra)?
Carolina Garcez: O Festival também tem o objetivo de ser um espaço para construção do pensamento em circo, então teremos uma programação formativa com mesas de discussão sobre dramaturgia para circo, formação em circo, criação artística nessa arte cênica e o mercado para circo, além de um encontro entre artistas, produtores e demais interessados para troca de informações, experiências e impressões sobre possibilidades do pensar e fazer circense. Para isso convidamos diversos realizadores e pensadores em circo, como Leila Jones, da RoundHouseCircus Festival (Inglaterra), Raquel Rache e Guy Carrara, do PNAC Méditerranée-Archaos/CREAC (França), Fernanda Vidigal, do Festival Mundial de Circo (Belo Horizonte), DanilleHoover, do Festival de Circo do Brasil (Recife), Junior Perim, do Festival Internacional de Circo do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), João Carlos Artigos, do Festival Anjos do Picadeiro (Rio de Janeiro), Bel Toledo, do Festival Paulista de Circo (São Paulo), Nilton Gamba Junior, da Cia Nós nos Nós (Rio de Janeiro), Marco Vettore, da Cia Nau de Ícaros (São Paulo), Rodrigo Matheus, do Circo Mínimo (São Paulo) e Marco Bortoleto, do CIRCUS – Grupo de Estudo e Pesquisa das Artes Circenses (Campinas). Assim, com o Circos – Festival Internacional Sesc de Circo, o Sesc SP se une aos demais realizadores e companhias que trabalham com formação, produção, difusão e fruição das artes circenses, criando um espaço de intercâmbio e desenvolvimento da linguagem cênica de circo.
Fique de olho nas mesas de discussão
Circo: uma linguagem cênica
Dia 7/5, terça, às 19h30, no Auditório do Sesc Pinheiros
Com Raquel Rache de Andrade (França), Nilton G. Gamba Junior (RJ) e Marco Vettore (SP)
Circo: da formação à produção estética
Dia 8/5, quarta, às 19h30, no Auditório do Sesc Pinheiros
Com Junior Perim (RJ) e Rodrigo Matheus (SP)
Circo e Mercado
Dia 9/5, quinta, às 19h30, no Auditório do Sesc Pinheiros
Com Leila Jones (Inglaterra), DanilleHoover (PE), Fernanda Vidigal (MG) e Junior Perim (RJ)
Encontro entre artistas, realizadores de festivais e interessados em circo
Dia 10/05, sexta, das 14h30 às 16h30, na Sala de Múltiplo Uso do Sesc Pinheiros
Preço: Grátis. Classificação: Livre