Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 21.03.2014

Barra

Poesia e música em clima de festa de rua

Espetáculo ao ar livre marca a primeira investida da Cia. São Jorge no teatro para crianças

Primeiro infantil da trajetória da Cia. São Jorge de Variedades, que existe há 15 anos com 7 peças no repertório, o espetáculo São Jorge Menino tem contado com a ‘ajuda’ fundamental de outro santo, São Pedro, já que é um espetáculo de rua, aberto, ao ar livre, e se chover é cancelado. Tudo se passa na área externa de convivência do SESC Belenzinho, como uma verdadeira festa. Um clima ritualístico de celebração é incentivado e mantido o tempo todo entre elenco e público. Não à toa: a dramaturgia é assinada por ninguém menos do que o veteraníssimo Ilo Krugli, do Grupo Ventoforte, que já atravessou gerações com suas peças de longa duração, feitas de lenços e de ventos. O diretor é Rogério Tarifa, que acaba de ganhar o Prêmio Shell em São Paulo pela cenografia de ‘Cantata para um bastidor de utopias’. A participação de crianças sempre foi muito forte e espontânea, em todas as peças da companhia, daí a ideia de realizar agora um espetáculo voltado prioritariamente para esse público mirim.

A história se inicia com o anúncio da inauguração de uma estátua de São Jorge, onde um menino é encontrado dormindo e é confundido com a figura do santo. ‘São Jorge Menino’ é feito de muita música e muita poesia. Valoriza sucatas, papeis dos mais variados tipos, fitas, sementes e até pó de café para formar desenhos no chão. O público vai sendo deslocado no espaço à medida que a história é narrada, uma história que começa com a Mãe Terra, o nascimento do mundo, passa pela celebração da rua como espaço de convívio, passa pela chegada da tecnologia que afasta e embrutece as pessoas, cita dragões da maldade, santos guerreiros, tem um personagem panfletário chamado Glauber, tem um Candinho em homenagem a Portinari, tem um Dica em homenagem a Di Cavalcanti, fala de Lua, de abrir caminhos, de poste grafitado, do muro do vizinho. É um desfile de imagens, simbologias e sugestões que remetem a um saudosismo de brincadeiras de rua e à recuperação de uma estética que parece ter ficado perdida no tempo, entre uma e outra descoberta tecnológica. Vale a pena ver por causa disso tudo. O público se empolga tanto que às vezes até sufoca a cena, de tão perto que quer ficar dos atores. Destaque para a direção musical de Lincoln Antonio e as composições de Jonathan Silva.

Serviço

SESC Belenzinho – Praça
Rua Padre Adelino, 1.000 – Belenzinho (próximo à estação Belém do metrô)
Tel.: (11) 2076-9700 /  (11) 2076-9700
Sábados e domingos às 17 horas
Grátis
Até 6 de abril