Crítica publicada na Revista Veja Rio
Por Leila Sterenberg – Rio de Janeiro – 27.10.1993
O Fantasma da Blitz
Oscar Wilde ganha versão roqueira e divertida
Há um fantasma à solta no Rio. Ele nasceu na Inglaterra, morreu há quase 100 anos, chama-se Oscar Wilde e anda assombrando muita gente grande com a atualidade de seu texto. As crianças não se assustam, mais ocupadas em se divertir do que em descobrir que a história foi criada há mais de um século. A montagem de O Fantasma de Canterville é assim: faz do conto de Wilde um engraçadíssimo musical infantil com muito rock e jeitão de videoclipe. Qualquer semelhança com gracinhas da extinta Blitz não é coincidência: Márcia Bulcão, que cantava na banda, assina a adaptação do texto, com Isabella Couto, as músicas e a direção musical dividida com o também ex-Blitz Ricardo Barreto. O diretor é Ernesto Piccolo, ganhador do Prêmio Coca-Cola em 1992.
Márcia e Isabella transformaram a família americana que compra um castelo mal assombrado na Inglaterra numa família brasileira. Os novos-ricos, senhor e senhora Silva (Ricardo Busse e Maria Clara Gueiros, comediantes de primeira), mudam-se para Canterville com a filha adolescente Virgínia (Tainah Carvalho, de 12 anos) e os gêmeos Ordem e Progresso, nomes que demonstram a competência da versão, já que eram Estrelas e Listas no original, em alusão à bandeira ianque.
Lá encontram o fantasma que há 400 anos mata de susto os aristocratas bretões, o Jurassic Boy Jonas Miquéias, uma luva para o papel. Escrachados ao extremo, os Silva judiam tanto do monstrengo que ele desiste da carreira de assombração e consegue enfim bater as botas. Até aí, morreu Neves, já que com uma filigrana ou outra a mais é esse o enredo de Wilde. A novidade fica por conta do turbilhão de clichês bem colocados e gags moderninhas. Figurinos coloridos, cenário funcional inspirado no gravurista Maurits Escher e iluminação competente completam o show. Oscar Wilde, onde quer que esteja, deve estar feliz.
O Fantasma de Canterville
60 min
Teatro Nelson Rodrigues
394 lugares
Avenida Chile, 230, Centro
Tel: 262.0942
Sábado e domingo, 17h
CR$ 300,00
Estacionamento próprio