Matéria/entrevista publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – atualizada em 05.06.2015
Trilhas de cinema chegam ao teatro infantil
Filminho conta uma linda história usando músicas de filmes conhecidos das crianças
Feriadão com teatro, música e cinema para crianças. Tudo isso concentrado em uma única atração – e da melhor qualidade. Assim é o espetáculo Filminho em cartaz só até domingo no SESC Pompeia, em São Paulo, na hora do almoço. Se puder, não perca. É um encanto, para adultos, inclusive. Com texto e direção cênica do premiado veterano Marcelo Romagnoli, a peça conta a história de um jovem galã de cinema que foge da tela de projeção e se aventura pelo mundo de verdade. Suas peripécias são embaladas por temas conhecidos do cinema infantil, como O Rei Leão, A Noviça Rebelde, Mogli, A Pantera Cor de Rosa, As Bicicletas de Belleville e Frozen. O repertório é interpretado ao vivo por uma banda composta por músicos, atores e performers. Fazem uma verdadeira festa em cena, esbanjando um talento incomum. São eles: Natalia Mallo, Mariá Portugal, Maria Beraldo Bastos, Paula Mirhan, Ramiro Murilo e Rui Barossi. A ideia, concepção e direção musical é de Natalia Mallo, para quem fiz três perguntas. Leia a seguir e constate como é imperdível!
Ah, e neste sábado (dia 6/6), às 15 horas, o grupo faz uma oficina gratuita de criatividade, ligada ao tema das trilhas de cinema. Inscrições meia hora antes no próprio local.
Crescer: Conte um pouco sobre como conseguiu essa incrível homogeneidade de talentos e se há uma formação musical idêntica entre todos vocês.
Natalia Mallo: Trata-se de um elenco de músicos, muito próximos afetiva e profissionalmente (além de muito amigos, somos três casais) e com formações diversas. Somos parceiros de longa data em vários projetos musicais (para citar alguns trabalhos nossos juntos e por separado: Trash Pour 4, Gato Negro, Arrigo Barnabé, Filarmônica de Pasárgada). Temos muita intimidade tocando juntos em shows, turnês e gravações. E temos em comum a passagem por vários projetos de artes cênicas (eu mesma fiz trilha sonora para uns 15 espetáculos de Cristiane Paoli Quito) e uma pesquisa de “estado de intérprete” que a gente leva para todas as instâncias onde se apresenta. Todos nós somos músicos de formação e atuação que encontraram nas artes cênicas um espaço de pesquisa e criação. Como atores, exceto a Paula Mirhan, somos todos meio iniciantes.
Crescer: Comente as suas escolhas das canções dos filmes. Além de serem todas retiradas de filmes ditos infantis, houve mais algum denominador comum nesse seu critério de escolha, como o tema, o ritmo, o sucesso, etc.? Ou foram escolhas que tinham de casar com a dramaturgia criada por Marcelo Romagnoli? Ou foi ele quem criou a dramaturgia a partir das músicas que você propôs?
Natalia Mallo: Eu vinha querendo muito fazer um musical e quando tive a ideia de uma história costurada por músicas de filme, comecei imediatamente a selecionar repertório. Eu queria que houvesse diferentes épocas (como ‘Mogli’, de 1967), e países ou estilos (‘Bicicletas de Belleville’ é canadense, ‘Totoro’ é japonês), para poder também colocar estas músicas em perspectiva com as produções atuais (‘A princesa e o Sapo’, ‘Frozen’). No caso das atuais me interessou resgatar composições que considero muito boas de suas interpretações nos filmes, que me soam muitas vezes estridentes e épicas demais. E, naturalmente, são músicas de que gosto, e que têm a sonoridade que quis para a direção musical, que é jazzística, com bastante arranjo vocal e com interpretações suaves. O Romagnoli também é parceiro de longa data, já fizemos teatro adulto juntos, há mais de dez anos. Ele adorou a ideia desde o início e, quando a parte musical estava ensaiada e pronta, entrou a dramaturgia. Ele sempre quis que o foco não estivesse no filme original ou na cena da música, mas que pudéssemos contar uma nova história, feita desses arquétipos do cinema e que até fizesse talvez uma referência à própria história do cinema, mais do que aos filmes. Algumas coisas foram minha sugestão, como a referência à ‘Rosa Púrpura do Cairo’ (filme de Woody Allen), em que personagens saem da tela, ou as falas de filme incluídas nos diálogos. Mas foi ele quem bolou os personagens, diálogos, enredo, trajetórias, desfecho… Essa junção foi um processo prazeroso e muito orgânico.
Crescer: Conte algo relacionado à recepção da plateia ao espetáculo.
Natalia Mallo: Uma coisa maravilhosa é ver os pais com aquele sorriso ou aquele olhar marejado, reconhecendo o repertório, se conectando com a própria infância. Eles vêm ao final agradecer o fato de o espetáculo ser entretido e prazeroso para eles também. Há momentos em que o pai cantarola uma música que a criança não conhece (como o tema de ‘A Noviça Rebelde’), e por outros é a criança que canta e o pai fica “boiando”. Gosto disso porque cria um diálogo entre vivências. Acho importante registrar aqui que não acredito em uma “abordagem” musical infantil. Claro que entendo que crianças apreciam o jogo com as palavras, a brincadeira, a rima. Mas tanto nesse espetáculo como em outros infantis em que criei a música (como “Meu pai é um homem pássaro“), penso em elaborar a parte musical com toda a riqueza de elementos e recursos expressivos que uso em projetos ditos adultos. As crianças são seres extremamente musicais, e gosto de criar de maneira a acessar essa sensibilidade, que pode ser muito sofisticada!
Serviço
Teatro Sesc Pompeia
Rua Clélia, 93
Tel. (11) 3871-7700
Sábado (6) e domingo (7), ao meio-dia
Ingressos: R$ 8,50 (meia) e R$ 17,00 (inteira)
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