Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 29.05.2015

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Duas atrações que ensinam a lidar com as diferença

Bombom, o Lobinho Mau, de Tony Giusti, e O Corcunda Quaquá, de Ricardo Ripa, são espetáculos complementares em tudo, até na qualidade mediana, o que não é pouco

Há espetáculos que a gente vê e sai feliz pelo resultado, mas não se pode dizer que empolgam completamente. Sim, o talento de todos os envolvidos é inegável, não violam nenhuma regra do que seja considerado bom teatro, não erram em absolutamente nenhum item. Tudo é correto, agradável de ver, absolutamente recomendável – mas sem passar perto de se configurar em uma grande obra. Provas evidentes de que não há receitas prontas de sucesso. Você usa os melhores ingredientes, mas não vira o bolo mais desejado da temporada. São os mistérios imponderáveis do teatro – e da arte em geral.

Vi duas boas peças para crianças que se encaixam perfeitamente na descrição do parágrafo acima. Aprovo e gosto de Bombom, o Lobinho Mau, de Tony Giusti, no Teatro Top, e O Corcunda Quaquá, de Ricardo Ripa, no Teatro Viradalata. São duas atrações que merecem sua visita, pois têm muito potencial para cair no gosto do público, ainda que talvez não entrem nas listas de melhores do ano. Mas nem só de obras-primas se faz uma carreira, não é? Em meio ainda a tantos oportunismos e equívocos nos palcos desse Brasil afora, ser “apenas” correto não é pouco: é vitória que merece toda a nossa reverência, com aplausos efusivos no final.

Em comum, há também o fato de que ambos os espetáculos se apropriam de personagens clássicos conhecidos – o lobo mau e o corcunda de Notre Dame -, mas não para reproduzir suas histórias originais, e sim para criar novas tramas usando os mesmos personagens. Ambos são bem-sucedidos nessa vertente da dramaturgia de clássicos recriados, mais do que meramente adaptados. Ambos são bem escritos e têm ideias novas e criativas, a partir de imaginários já estabelecidos na memória afetiva de adultos e crianças.

Em Bombom, o Lobinho Mau, o autor e diretor Tony Giusti, que também assina cenografia e figurinos, acertou no uso da narrativa fabular para falar de um tema sempre pertinente: o conflito de gerações. Pais conservadores, filhos diferentes. A família tradicional tendo de lidar com novas realidades sociais e afetivas. Em vez de caçar suas presas, o ‘filhobinho’ fica amigo delas e as leva para dentro de casa, para surpresa de seu pai, que é ainda um predador à maneira antiga das histórias de lobo mau. O respeito às opções individuais falará mais forte no final, sem que seja necessário fazer pregações para a plateia. Tudo é divertido, alegre e bastante musical. A trilha, aliás, merece menção especial, com letras do próprio Giusti e melodias de Lucas Vasconcelos.

Em O Corcunda Quaquá, o tema do respeito às diferenças também se faz presente, o que aproxima ainda mais as duas montagens, incrivelmente complementares.  Os personagens foram retirados por Ricardo Ripa do livro O Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo, porém aqui eles surgem envolvidos em uma trama diferente da original, com novos elementos, novas relações entre eles. Um atrativo extra da montagem: concomitantemente às suas falas, os atores também interpretam com as mãos, na linguagem de sinais, pois o corcunda desta história, vivido com graça e segurança por Joca Andreazza, além do físico deformado, é deficiente auditivo. A consultoria de libras ficou a cargo de Elaine Sampaio. Outro destaque do elenco é o vilão Rollo, interpretado com muito carisma por Carlos Baldim. Para completar, a trilha de ritmos diversificados do premiado Ricardo Severo é bem eficiente e empolga a plateia. Uma pena ser playback. Ah, e repare também nos figurinos de Rosa Berger, sobretudo nos inusitados chapéus e outros adereços de cabeça dos personagens: são de uma criatividade a toda prova!

Serviços

Bombom, o Lobinho Mau

Top Teatro
Rua Rui Barbosa, 201, Bela Vista
Tel. (11) 2309-4102
Sábados e domingos, 16h. R$ 30,00 (inteira)
Até 28 de junho

O Corcunda Quaquá

Teatro Viradalata
Rua Apinajés, 1.387, Sumaré
Tel. (11) 3868-2535
Sábados e domingos, ao meio-dia
Ingressos: R$ 15,00 (sábado) e R$ 30,00 (domingo) – ambos com meia entrada
Até 5 de julho