Todo dia era dia de índio

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 19.06.2015

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Todo dia era dia de índio

Mergulhando com lirismo no universo indígena, Meu Vo(o) Apolinário fala da importância de se aceitar como se é

Minha dica de hoje nesta coluna semanal é a peça Meu Vo(o) Apolinário, em cartaz em São Paulo, no Teatro Jaraguá. O grande lance da montagem é a chance de mostrar às crianças aspectos importantes da cultura indígena, estimulando-as a compreender, valorizar e respeitar as diferenças raciais. Escolas, fiquem de olho. Vale a pena levar os alunos e trabalhar com eles esse tema em sala de aula, antes e depois de verem o espetáculo.

O texto é do escritor Daniel Munduruku, retirado do livro da editora Studio Nobel que foi menção honrosa do Prêmio Literatura para Crianças e Jovens na Questão da Tolerância, da Unesco, em 2004. Autor de 47 livros sobre a cultura indígena, o escritor é formado em Filosofia, com licenciatura em História e Psicologia, doutorado em Educação pela USP e pós-doutorado em Literatura pela Universidade Federal de São Carlos. Meu Vô Apolinário: um Mergulho no Rio da (Minha) Memória é o seu livro favorito, segundo ele, por ser emotivo e fruto de uma vivência real. “A partir da experiência com meu avô nasceu o livro e nasceu o escritor”, conta ele.

Com direção de José Sebastião Maria de Souza, o espetáculo é quase um monólogo para o jovem ator Wesley Leal, mas há também a participação decisiva do veterano J. Lopes Índio, como o sábio avô, que se entrega ao texto com muita sinceridade e afeto. As cenas de interação entre os dois são delicadas e tocantes. Wesley, em toda a parte em que fica sozinho no palco, dá conta do recado com muita graça e segurança. Tem talento de narrador, carisma com o público, desenvoltura de contador de histórias e uma incrível força na expressão corporal. Seu corpo também fala – e com uma leveza que encanta.

O palco é quase sem cenografia: temos apenas ao fundo um telão com a projeção de imagens que funcionam como videocenário, a cargo do VJ Scan. Por causa do palco vazio, o ator Wesley Leal tem marcações bem claras, variadas e criativas, mas algumas talvez em excesso e, o que é pior, redundantes e muito explicitamente ilustrativas de trechos de sua fala. Mas eu entendo o esforço da direção em procurar deixar tudo ágil e dinâmico, pois o enorme palco do Jaraguá precisa ser preenchido com movimentos. O importante é que o ator se vira muito bem e conquista a todos com sua ‘atuação performática’ de grande impacto.

Não posso deixar de citar um trecho do texto do programa da peça. “Comovente em sua dignidade, esta narrativa confere uma força quase religiosa à transmissão de valores e experiências, reencantando o mundo em meio aos acelerados processos de sua despoetização”, escreveu a filósofa e professora Olgária Matos sobre a encenação. É isso. Leve seu filho para que ele comece a entender a importância de aceitar e ser aceito, mas, sobretudo, o valor inestimável da autoestima e do orgulho de ser como se é.

Serviço

Teatro Jaraguá (Novotel Jaraguá)
Rua Martins Fontes, 71, Centro – São Paulo
Tel: 11 3255-4380
Sábados, às 18h e domingos, às 16h
Ingressos a R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia)
Até 19 de julho