Critica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 26.02.2016
Peça mostra como é, por dentro, um jogo de videogame
Com o irregular espetáculo Splash, o grupo República Ativa de Teatro põe a perder uma boa ideia dramatúrgica
“Um aparelho de videogame está em pane e, por algum motivo desconhecido, não funciona mais como programado. Isso nunca havia acontecido! A pane foi tão grande que seus componentes ganham vida e precisam descobrir o que aconteceu.” Essa breve sinopse, no texto de divulgação de imprensa, desperta uma curiosidade incrível com relação ao espetáculo infantil Splash ou A História da Gota que Sonhava ser Rio, do grupo República Ativa de Teatro, encerrando sua primeira temporada neste fim de semana em São Paulo. Afinal, transformar componentes de computador em personagens de teatro é uma ideia muito boa, com potencial para fisgar um interessado público infantojuvenil.
Já vi, porém, outros espetáculos mais acertados dessa companhia, como sua trilogia de textos de Maria Clara Machado. Aqui, as promessas infelizmente não se cumprem muito a contento. Para começar, uma observação importante: o título da peça só começa a ser explicado e a fazer sentido após meia hora de espetáculo transcorrido. Fiquei incomodado na poltrona pensando: mas o que uma gota que quer ser rio tem a ver com esse aparelho quebrado de videogame? Talvez fosse mais apropriado um título mais alusivo ao mundo dos videogames.
Um forte defeito da peça, dirigida por Rodrigo Palmieri, são as músicas. A trilha de André Grynwask é formada por canções originais que não empolgam, muito fracas em melodia e, sobretudo, em letras que, em sua maioria, trazem lições de moral muito explícitas, o que já se provou ser um recurso empobrecedor no teatro infantil. A própria dramaturga, Vivi Gonçalves (também integrando o elenco), escreveu essas letras. A maioria das rimas é feita com a facilitada terminação AR. Para completar, o elenco (Vivi Gonçalves, Thiago Ubaldo, Thelma Luz, Leandro Ivo e Fernanda Oliveira) não está cantando bem – o que vira um erro fatal em um espetáculo que se propõe a ser musical.
É muito longa a cena em que os personagens de dentro do videogame “pensam”. As falas são todas em off, portanto gravadas previamente, e os atores ficam estáticos no palco por muito tempo. A plateia se mexe nas poltronas, inquieta. São personagens com força para serem atraentes, porém o texto não lhes favorece. Quase não há humor. E os atores foram levados a falar com voz infantilizada e aguda, talvez por seus personagens não serem do gênero humano – e isso também fica chato depois de poucos minutos de peça.
Mas, a meu ver, há pontos positivos também. O melhor da montagem tem apenas 15 minutos de duração: é quando o jogo de videogame volta a funcionar. Cada personagem tenta ganhar, perde e surge o implacável ‘game over’. É óbvio qual dos personagens vai se sair o vencedor, mas mesmo assim são os 15 minutos mais movimentados, interessantes e bem feitos do espetáculo, com o auxílio de projeções em telão. Os figurinos de Thelma Luz são criativos e coerentes. A cenografia de Leandro Ivo também é bastante correta. Bem, e o final (em que se conta finalmente a história da gota Splash) volta a ser fraco e catequético, todo narrado em off, em forma de versos, e, de novo, com rimas pobres terminadas em AR.
Aguardo, pois, a próxima montagem da irregular República Ativa de Teatro.
Serviço
Centro Cultural São Paulo (Sala Jardel Filho)
Endereço: Rua Vergueiro, 1.000 – Paraíso – São Paulo
Tel. (11) 3397-4002
Sábados e domingos às 16h
Ingressos: R$ 10,00 (inteira), R$ 5,00 (meia)
Até 28 de fevereiro (domingo)