Val Pires e Fernanda Oliveira

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 06.05.2016

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Peça infantil tenta ensinar o lema ‘faça humor, não faça guerra’

O Inimigo, em cartaz no Centro Cultural São Paulo, é baseada em livro de autor suíço e usa a linguagem de palhaços no campo de batalha

Com temática muito parecida com o premiadíssimo livro da brasileira Ruth Rocha, Dois Idiotas Sentados Cada Qual em Seu Barril, a peça O Inimigo, em cartaz no Centro Cultural São Paulo, é baseada, porém, em outro livro – e de um autor estrangeiro. Davide Cali, escritor suíço de 44 anos, atualmente vivendo na Itália, quis contar – para jovens – a história de dois soldados presos cada qual em seu buraco, em um deserto.  Ambos desejam que a guerra acabe, mas esperam que o outro, não ele, desista de guerrear – e nenhum dos dois sabe exatamente por que eles estão em conflito ou por que um tem de odiar o outro. Trata-se, como se vê, de um libelo contra a guerra e pela paz. Isso fica claro quando um percebe que o outro é um ser humano como ele, igual a ele, com família, filhos, passado, histórias, lembranças.

Trata-se do sexto espetáculo de repertório da República Ativa de Teatro, companhia que em 2016 completa 10 anos de trajetória. No mesmo Centro Cultural São Paulo, vimos deles também este ano a peça Splash. Desta vez, em O Inimigo, o grupo resolveu chamar um diretor convidado. O escolhido foi Val Pires, ator de muito sucesso no teatro para crianças, sobretudo na Cia.Vagalum Tum Tum, que tem adaptado peças de Shakespeare para o universo infantil. Pires também é um clown dos Doutores da Alegria e, por isso, tem muita intimidade com a linguagem clownesca que escolheu para os dois soldados em cena, vividos pelos atores Leandro Ivo e Thiago Ubaldo.

Em minha avaliação, a peça fica no meio do caminho do humor, da emoção, da poesia. Tem importância por seu tema forte, atual e premente, mas não há uma grande cena engraçada, nem há momentos de arrebatadora emoção. Tudo segue no mesmo ritmo do começo ao fim. Os dois atores não têm carisma suficiente para deixarem marcas de suas interpretações no público. Não criam clowns com personalidades próprias e características a se destacar. A história – a dramaturgia – não tem reviravoltas, tampouco surpresas. Mas, diga-se, nada chega a ser ruim, comprometedor ou desagradável de se ver – apenas não é uma peça marcante.

Fiz três perguntas para o diretor Val Pires:

Crescer É a sua primeira direção de espetáculo para crianças. Comente sobre o que achou dessa “primeira vez” e sobre como se deu a aproximação com a República Ativa.

Val Pires  É também a primeira vez que dirijo como convidado. A aproximação se deu através de um convite do diretor da República Ativa (Rodrigo Palmieri) que havia trabalhado comigo na montagem que dirigi (Medida por Medida – Grupo Folias). Então conheci o Leandro Ivo e a Vivi Gonçalves, que me apresentaram o livro Inimigo (do autor suíço Davide Cali), e vi que tínhamos um bom tema nas mãos. Aceitei o convite e começamos um processo de adaptação do livro e ensaios. Posteriormente, para a montagem, veio para o elenco o ator Thiago Ubaldo e para a equipe os artistas Helo Cardoso, André Grynwask e Rodrigo Palmieri.

Crescer Por que é importante montar hoje uma peça com essa temática?

Val Pires  Porque estamos vivendo uma guerra intolerante em que cada um fica no seu “buraco”, como no cenário da peça, no seu dogma, nas suas certezas, esquecendo que o inimigo também é ser humano.  O que interessa é o humano.

Crescer Você acentuou a linguagem clownesca do espetáculo para dar mais leveza ao tema?

Val Pires  Sim, mas não foi para dar leveza, mas porque o olhar do palhaço é muito próximo do olhar da criança.

Serviço

Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho
Rua Vergueiro, 1.000 – Paraíso – São Paulo – Tel. (11) 3397-4002
Sábados e domingos, às 16h. Ingressos: R$ 20 (inteira) / R$ 10 (meia
Até o dia 22 de maio