Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 15.07.2016

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Sequência de O Alvo retrata jovens com apuro e realismo

Pedro Garrafa acerta na continuação da peça que lhe rendeu prêmios no ano passado

No ano passado, Pedro Garrafa ganhou o prêmio de melhor autor no Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro para Crianças e Jovens pela peça O Alvo um soco na boca do estômago da plateia com sua história de “bullying” violento em um colégio de classe média alta de São Paulo. Há algumas semanas, Pedro Garrafa voltou à carga com uma continuação de sua peça premiada, O Alvo 2. E, melhor, ambas estão em cartaz e podem ser vistas na sequência. Prepare-se, pois a continuação também é muito boa.

Na primeira história, um grupo de meninas “acidentalmente” faz uma colega da escola, muito zoada por todos e alvo de bullying coletivo,  rolar escada abaixo e ir parar no hospital em estado grave. Na segunda peça, Alvo 2 – Hateclub, toda a escola já sabe do caso e quem passa a alvo de bullying são as próprias agressoras da primeira peça. Todos se voltam contra elas, que foram quase expulsas pela direção da escola – até que a menina vitimizada sai do hospital e promove uma festa em sua casa, no aniversário da irmã, onde vão parar todas as agressoras. E elas vão sem cerimônia.

O texto da continuação também é ótimo como o primeiro. Talvez um pouco mais ameno, posto que as fragilidades de cada personagem ficam mais expostas, ao contrário da primeira trama, em que a dose de violência e crueldade adolescente é ultraconcentrada. Fui com a maior expectativa, pensando: como será que Pedro Garrafa imaginou essa sequência? E saí bem satisfeito com o resultado. Ele conseguiu outra vez.

O Garrafa tem a seu favor um trunfo fundamental para o sucesso de O Alvo 1 e 2: o seu elenco de atrizes jovens sensacionais.  Andressa Andreato, Julia Freire, Kuka Annunciato, Luiza Porto, Natalia Viviani e Pauline Mingroni continuam dando um show de talento. Todas já passaram da fase de colegiais adolescentes, mas conseguem um nível de comprometimento com suas personagens que nos fazem acreditar piamente na existência delas.

A direção de Pedro Garrafa desta vez extrapolou o espremido palco do Teatro da Livraria da Vila, do shopping JK Iguatemi, em São Paulo. Parte da ação, sobretudo no momento da festa, transcorre com as atrizes no meio da plateia, como se circulassem pelos cômodos da casa onde a balada está sendo realizada. Isso envolve ainda mais o público, que, se já se sentia dentro da trama, agora mais ainda. Sacada esperta do diretor, que as atrizes souberam executar com graça e determinação. Os flashbacks também são explorados com competência pela aguçada dramaturgia.

Aposto que não serei o primeiro a mencionar isso: as duas peças teriam potencial para virarem uma série de televisão ou um longa-metragem, a exemplo do que se passou décadas atrás com Confissões de Adolescente. O tema do bullying segue premente e aqui ele é abordado de um jeito que nos atinge e incomoda.

Trecho da Peça

“Me deu um desespero doido. Uma raiva enorme, que eu não sabia onde pôr. Foi quando vi um post no blog da Maria Claudia. Não era nada de mais, o título era Os covardes fazem bullying, os fortes rolam a escada. Não tinha nenhum ataque, como o outro post… Mas tinha muitas curtidas! Umas oitocentas, no mínimo. Aquilo me tirou do sério. Poxa, depois de seis meses de tudo acontecer. Depois de a gente ter mudado tanto, ter sofrido tanto. Ela ainda estava falando sobre isso? E foi quando a mola escapou… Criei um email fake e me loggei como T-Hater. Era pra durar um dia só… Eu ia apagar… Mas quanto mais eu postava as coisas, mais vinham seguidores… E gente comentando… E eu… Eu sempre quis ser outra pessoa. Eu nunca quis ser a boba, besta, chorona, desligada, vítima.”

Leia também meus comentários sobre O Alvo 1, que publiquei aqui em junho de 2015

Serviço

Teatro Livraria da Vila Shopping JK Iguatemi
Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 2.041 – Vila Nova Conceição
Tel. 11 5180-4790
Sábados, às 17h30 (O Alvo 1) e às 19h (O Alvo 2)
Ingressos:  R$ 60 inteira | R$ 30 meia-entra