Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro -07.05.2005

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Cláun! Palhaços Mudos: Boa pesquisa da linguagem do clown em nove quadros que proporcionam muita diversão

Quando a palavra dá espaço para palhaçadas

A palavra está perdendo espaço nas peças infantis em cartaz na cidade. Isso significa que as histórias tradicionais, com começo, meio e fim, estão sendo trocadas por roteiros fragmentados, na maior parte das vezes calcados em trabalhos de improvisação dos atores. Essa tendência inclui montagens que, apesar de semelhantes pela ausência do texto, conseguem ser bem diferentes em suas propostas cênicas, como mostra Cláun! Palhaços mudos, em cartaz no Teatro Gláucio Gill.

No espetáculo, a Companhia do Gesto, que está completando 20 anos, pesquisa a linguagem do clown em nove quadros diferentes. No primeiro deles, uma das palhaças entra pela plateia com uma mala preta, brincando e já está estabelecendo uma intimidade com o público, que será muito proveitosa ao longo da montagem. Quando ela descobre o palco e se apropria dele, é surpreendida pelo surgimento de uma segunda palhaça, que só consegue ver de frente depois de um divertido jogo de esconde-esconde – piada que sempre funciona muito bem, já que as crianças ficam aflitas para avisar a um dos personagens da presença do outro.

No desenrolar da montagem, as palhaças vão criando situações familiares ao público infantil, que incluem sempre uma acirrada disputa entre elas. Em diferentes cenas, como na briga pela cadeira, na exibição das habilidades com, os malabares, na confusão com os jornais ou na das bolinhas de sabão, há uma grande rivalidade que leva uma a querer provar que é mais es­perta do que a outra. E é claro que nessa luta está embutida a conquista pela preferência do público.

Atrizes conseguem conquistar as crianças

As palhaças Ana Carina e Tânia Gollnick estão muito a vontade em todos os quadros, conseguindo, de uma forma geral, conquistar as crianças com suas atuações. O trabalho das duas merece destaque em alguns momentos, como no jogo de esconde­esconde, na disputa pelos objetos que são retirados das malas e, principalmente, na cena da banana, que é muito divertida. O quadro dos anjos, embora seja visualmente interessante, talvez pudesse ser dispensado. Nesse momento, há uma queda no, espetáculo, que acaba provocando cansaço nas crianças.

O cenário, praticamente vazio, é preenchido apenas por biombos e pelos elementos de cena utilizados pelas atrizes. O figurino, de Biza Vianna, composto por calças pretas, blusas listradas em preto e branco, casacão cinza e meias coloridas, segue o tom sóbrio do cenário, todo preto. A iluminação, apropriada para a montagem, é de Jorginho de Carvalho. E a trilha, que só entra nas cenas finais – o que é uma pena, pois a música faz falta no espetáculo – assim como o bem elaborado roteiro são de Dácio Lima.

Cláun! Palhaços mudos tem uma direção eficiente de Luís Igreja, que, apostando no trabalho de suas duas atrizes, consegue conquistar a simpatia das crianças.

(foto)
Atrizes estabelecem uma proveitosa intimidade com o público.