William Pereira, no papel de Pinóquio: nova adaptação é bem fiel ao texto original

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 06.03.2005

 

 

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A Fantasia de Pinóquio: Uma adaptação fiel prejudicada por pequenos problemas na direção 

A Fantasia de Pinóquio, em cartaz no Teatro Clara Nunes, é uma adaptação para o clássico “Pinóquio”, do autor Carlo Collodi. Apresentada inicialmente em episódios num jornal italiano, a história do boneco de madeira que vê seu nariz crescer cada vez que conta uma mentira saiu publicada em livro pela primeira vez em 1883. De lá para cá, ganhou várias versões no palco e no cinema, sempre agradando ao público infantil.

A adaptação de Leandro Fleury Curado é bem fiel ao original. Após criar um boneco de madeira, o velho e solitário Geppeto pede a uma estrela brilhante que dê vida a ele. Seu sonho é realizado pela Fada Azul, que nomeia o Grilo Falante como consciência do menino de madeira. Só que, logo no primeiro dia de aula, Pi­nóquio encontra no caminho da escola uma vilã que o convence a virar artista. Sem escutar os apelos do Grilo, o boneco vai para o circo, de onde só consegue sair com a ajuda da fada madrinha. Ao longo da peça, Pinóquio é levado pelos vilões que o pressionam a optar entre o que é certo e o que parece mais interessante, escolhendo sempre a segunda opção e, consequentemente, metendo-se em uma série de perigosas aventuras.

Se Curado resolve bem a adaptação do texto, apesar de criar novos vilões mantém a essência da história de Collodi, encontra alguns problemas na, direção da peça. O maior deles talvez seja o elenco, bastante irregular. Embora o espetáculo não seja um musical, tem vários números de canto e dança, que nem sempre são executados como deveriam. De uma forma geral, os atores não se mostram experientes para atuar em um espetáculo que exige preparo teatral, cor­poral e vocal.

Alguns atores ainda parecem inexperiente no palco

Denise Ricardo, por exemplo, a Fada Azul, canta muito bem, mas não está segura co­mo atriz, assim como Helen Hoffman, a Sra. Strãmboli, e Ricardo Ferraz, Geppeto, que também parecem inexperientes no palco. Leandro Fleury Curado, que se sai razoavelmente bem nos números de canto e dança, poderia ser mais enfático como Grilo Falante. Alessandra Simões, Dona Prazerosa dos Prazeres, e William Pereira, Pinóquio, são os que passam maior integração com seus personagens.

Na ficha técnica, destaca-se o figurino de Márcio Araújo, que, além de bem cuidado, ajuda na composição dos personagens. A iluminação de Castelar está adequada à montagem e o cenário, também de Araújo, em parceria com Marcelo Felicetti, procura preencher o extenso palco do Clara Nunes da melhor forma possível. Apesar de ser irregular, A Fantasia de Pinóquio consegue prender a atenção do público infantil, que se revela íntimo do clássico de Collodi: na passagem em que Pinóquio volta para casa e não encontra seu pai, ouvem-se alguns gritinhos aflitos no meio da plateia que dizem “baleia! baleia!”, alertando o boneco quanto ao destino de Geppeto. Não é por acaso que certas histórias atravessam os séculos encantando crianças de diferentes gerações.