Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 28.02.2004
Um Voo para Santos Dumont: Peça na Casa da Ciência apresenta bem o personagem ao público infantil
Um pouco de História para crianças
No hall do teatro onde é apresenta da a peça Um Voo para Santos Dumont, na Casa da Ciência, uma aeromoça recebe os “passageiros” para um passeio que inclui os principais momentos da vida de Alberto Santos Dumont conhecido como o Pai da Aviação. Ali começa mais um espetáculo da Companhia Preto no Branco, que vem se especializando em apresentar ao público infantil importantes personagens da nossa História.
Como em seu último espetáculo, Portinari; um Menino de Brodósqui, o autor, e também diretor do espetáculo, André Brilhante, optou por rechear a peça com algumas brincadeiras e personagens fictícios, tentando evitar que a simples narrativa da vida de Dumont ficasse entediante para o público infantil. Na cena de abertura, a dos comissários de bordo, ele acertou em cheio, conseguindo criar um clima, além de divertido, muito propício para a introdução da peça.
Texto tem excessos que cansam o público
Já a cena dos anjos, em que eles contam a história de Ícaro, é muito longa. As crianças acabam se prendendo mais ao que está sendo visto do que ao que está sendo contado. E isso se repete em vários outros momentos do espetáculo, já que o autor dá muitas voltas para chegar ao objetivo da peça: retratar as invenções e as conquistas de Santos Dumont. Alguns cortes no texto certamente evitariam o cansaço que as falas mais longas provocam no público.
Brilhante consegue driblar o excesso de texto criando cenas bem divertidas na montagem; como a da atriz Milena Contrucci Jamel entrando no palco caracterizada de Torre Eiffel, a dos irmãos Wright, apontados pelos americanos como os primeiros homens a voar, e a da montagem do 14 Bis por Santos Dumont.
O cenário de Márcia Viveiros, composto por painéis laterais coloridos enfeitados por gaivotas de papel, é singelo e a iluminação, sem crédito na ficha técnica, discreta. O figurino de André De Angellis é bastante irregular: a combinação das cores verde e amarelo com preto, em alguns trajes, não é muito feliz na representação da Pátria. A direção musical de Warley Goulart é correta, mas não é fundamental no espetáculo. E quanto menos se destaca a parte técnica, mais se exige do desempenho dos atores. Quem se sai melhor no espetáculo é Milena Contrucci, muito divertida, não só na cena de abertura, quanto em seus diferentes papéis. Warley Goulart está bem como Santos Dumont, enquanto André Brilhante alterna alguns bons momentos com outros nem tanto.
Companhia aposta numa fórmula restritiva
Um Voo para Santos Dumont é um espetáculo que dá ao público infantil uma boa noção de quem foi o inventor e do que ele representa para o Brasil. Mas a Companhia Preto no Branco precisa tomar cuidado para não ficar presa a uma fórmula que, por apresentar algumas falhas, pode acabar impedindo seu desenvolvimento artístico.