Os Irmãos Brothers quase não chegam a lugar algum em Três Marujos Perdidos no Mar, por causa de direção pouco ágil

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 22.08.2004

 

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Três Marujos Perdidos no Mar: Peça sofre com a falta de ritmo, que poderia se amenizada por uma direção mais ágil

Uma viagem arrastada rumo às Índias

Três Marujos Perdidos no Mar, peça dos Irmãos Brothers em cartaz no Teatro Maria Clara Machado/ Planetário, conta a história de três marujos trapalhões que ambicionam ser os primeiros a chegar às Índias pelo Ocidente. Só que, logo no começo da viagem, eles pegam uma tempestade e sua precária jangada acaba naufragando.

A partir daí, eles passam por uma série de situações inesperadas, que incluem encontros com personagens como Cristóvão Colombo e Vasco da Gama.

No centro do palco, chama a atenção do público um recorte circular do mapa-múndi, limitado por uma fileira de pequenas luzes que remetem a um picadeiro de circo – perfeito para o trabalho de clown desenvolvido pelo grupo. Como objetos de cena, apenas três malas de tamanhos e estampas diferentes, que se completam com uma escada, três cadeiras de madeira, três baldes e três vassouras que entram em cena com os personagens. Através do encaixe e do desencaixe desses poucos e rústicos elementos, o cenógrafo Derô Martin consegue criar os diferentes lugares por onde passam os marujos, mostrando que, algumas vezes, a criatividade pode gerar resultados tão eficientes quanto à sofisticação.

O figurino de Barbara Martins também é muito apropriado para o espetáculo, com suas roupas enfeitadas com retalhos coloridos e seus divertidos chapéus, entre eles, um penico dourado. Os adereços dela, em parceria com Derô, são muito bem bolados, como no caso das bolas de gás que transformam-se em cocos. A iluminação de Aurélio de Simoni, bastante ágil e divertida, faz uma ótima dobradinha com a trilha original de Andrea Montevecchi, que, misturando diferentes ritmos, dá um colorido especial à montagem.

Texto apresenta problemas que não encontram solução na direção

A parte técnica, como se vê, está muito bem resolvida, mas o texto de Alberto Magalhães apresenta alguns problemas que não encontram solução na direção de Claudio Mendes. O espetáculo começa bem: a conversa dos marujos sobre a descoberta de que a Terra é redonda e os preparativos para a viagem, recheados pelos números de plateia, divertem e prendem a atenção das crianças. Os problemas aparecem a partir do naufrágio da jangada, quando a peça começa a se arrastar. Depois que desembarcam na ilha, os marujos ficam entediados, sem ter o que fazer. Aí contam algumas piadas meio sem graça até descobrirem um lâmpada mágica, que não diz muito ao que veio. A partir daí, a montagem alterna cenas inspiradas, como a de Vasco da Gama, vivido pela versátil Josie Antello – ótima em todos os seu personagens – com outras nem tanto. Fábio Florentino, como Pancada, e Alberto Magalhães, como Lelé, saem-se bem em alguns momentos, principalmente nos que exigem driblar a irregularidade do texto.

Apesar de ter muitas qualidades, Três Marujos Perdidos no Mar sofre com a falta de ritmo, que poderia ser amenizada por uma direção mais ágil.