Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 05.12.2004
O Teatro de Sombras de Ofélia: Adaptação fiel ressalta o lado cômico da velhinha interpretada por Márcia Cabrita
Leblon recebe espetáculo simpático
O Teatro de Sombras de Ofélia, espetáculo em cartaz na Sala Marília Pêra do Teatro do Leblon, é uma livre adaptação do livro homônimo de Michael Ende, belamente ilustrado por Friedrich Hechelmann. Aqui, o escritor alemão, autor de A história sem fim – transposto para o cinema com sucesso – enfoca temas como a velhice, o abandono, o desemprego e a solidão, mostrando como a arte pode tornar mais leve a vida de quem passa por momentos difíceis.
Adaptação é fiel ao livro de Michael Ende
Falar de temas tão delicados para crianças não é tarefa das mais simples. Para isso, o autor conta a história de Ofélia, personagem que nasce numa cidade pequena e passa sua vida inteira trabalhando como ponto – aquele profissional que, antigamente, soprava a fala dos atores no teatro. Só que, com o surgimento do cinema e da televisão, o público fica escasso e a simpática velhinha perde seu emprego. Sozinha no mundo, ela encontra companhia entre as sombras. . A sorte de Ofélia começa a mudar quando ela decide fundar um Teatro de Sombras, o que acaba dando ou sentido à sua vida.
A adaptação, feita por Marília Gama Monteiro em parceria com Lúcia Coelho, é bastante fiel ao livro, embora procurar ressaltar o lado mais cômico da velhinha, fazendo com que ela seja até um pouco escrachada o que é compreensível, já que as crianças não têm maturidade para enfrentar a seriedade do tema. Mas essa opção pela comicidade não impede que as autoras encontrem algumas dificuldades no desenvolvimento do texto. Como a história é curta, a dupla precisou aumentar o texto para cumprir os 50 minutos do espetáculo. E, entre outros artifícios, as autoras fazem a inserção de pequenos trechos de outras peças no texto, como no caso das apresentadas pelas sombras em seu teatro. E esses acréscimos acabam prejudicando o ritmo do espetáculo.
Por outro lado, a diretora Lúcia Coelho é muito bem-sucedida na transposição para o palco das poéticas ilustrações do livro. E, nesse ponto, cor com a preciosa colaboração de Cica Modesto, que utiliza, tanto no cenário quanto no figurino, trabalhos em crochê, criados com fibra de buriti – combinação que resulta em objetos cênicos muito bonitos, que vão desde uma grande cortina bordada, que funciona como suporte para a projeção das sombras, até o revestimento de um carro dirigido pela protagonista. E a beIa iluminação de Jorginho de Carvalho valoriza de maneira especial a delicadeza desse trabalho artesanal.
Atores da ONG Spectaculu participam do elenco
A direção musical de Tato Taborda e a direção corporal Angel Viana estão bem sintonizadas com a proposta da diretora, assim como a atuação Márcia Cabrita, que valoriza o lado cômico de Ofélia. Fernanda Coelho, como a sombra protagonista, e Marcelo Dias se saem bem em seu papéis. Vale ressaltar a participação dos jovens atores da ONG Spetaculu – Kelson do Santos, Renata Rodrigues, Severino Gomes e tia Lemos – todos muito compenetrados e eficientes em suas breves aparições.
No todo, O Teatro de Sombras de Ofélia é um espetáculo muito simpático, que deixa transparecer o empenho diretora Lúcia Coelho e de sua equipe em realizar um bom trabalho.