Couro de Piolho um conto de fadas divertido coletado da tradição oral por Câmara Cascudo

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 11.01.2004

 

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Couro de Piolho: Peça em cartaz no Teatro SESI mantém a qualidade dos trabalhos anteriores da Cia. de Teatro Artesanal

Um espetáculo com a bênção do mestre Luís Câmara Cascudo 

Como em vários contos de fada, a história de Couro de Piolho se desenrola a partir do desejo de uma princesa de encontrar o seu príncipe encantado. Só que nesta livre adaptação de Kátia Kamello e Edeilton Medeiros para um conto da nossa tradição oral, coletado por Luís Câmara Cascudo, a ingênua mocinha pensa que seu amado está escondido sob o disfarce de um piolho! E até ela encontrar seu verdadeiro par, muita coisa acontece no divertido espetáculo da Cia. de Teatro Artesanal, em cartaz no Teatro SESI.

Os quatro atores do elenco fazem vários papéis

Se um sapo pode virar um príncipe, por que seria diferente com um piolho? No mundo da imaginação tudo é possível. Só que ninguém chega a saber se isso aconteceria, já que o pai da moça manda matar o bicho depois que ele está ­bem grande, para forrar uma cadeira. Diante da decepção ele arquiteta um plano com a ama para encontrar um marido de verdade para ela: quem descobrir do que é revestida a tal cadeira receberá a mão da princesa em casamento. E tudo terminaria aí se o vencedor não fosse um rapaz humilde, que, por um golpe de sorte, diz a resposta certa. Como ele não tem nada a ver com o que anseia a princesa, terá que usar toda a sua esperteza para conquistá-la. E nas provas que ele precisa vencer estão os momentos mais engraçados do espetáculo.

O elenco da peça é formado por quatro atores que assumem papéis de igual importância, fazendo pequenas aparições em personagens secundários. Isabel Azevedo está ótima como a ama esperta que sempre acha soluções para tu­do. Edeilton Medeiros, como João, também diverte o público, principalmente nas cenas em que atrai os coelhos com as cenouras. Kátia Kamello está correta no papel da princesa, e César Amorim, talvez um pouco exagerado vivendo o rei. O tique de estalar os lábios durante todo o espetáculo,
que em alguns momentos é imitado pelos outros atores, poderia ser abolido, já que não contribui em nada com o lado cômico do personagem.

A parte técnica do espetáculo está muito bem resolvida. O figurino de Fernanda Sabino e de Henrique Gonçalves se integra perfeitamente ao cenário e aos adereços de Karlla de Luca, que atende, com simplicidade e eficiência às necessidades da história que está
sendo contada. Para isso, ela cria no centro do palco um tablado de madeira, que pode representar diferentes ambientes com um simples abrir e fechar de cortinas, fechando as laterais do palco onde a ação transcorre com dois painéis de pano pintado. Dessa forma, ela consegue transferir para o palco o espírito do teatro popular encenado na rua.

Só a música decepciona um pouquinho

A iluminação de Alexandre Nazareth, muito bonita e eficiente, é outro ponto alto da peça. Na realidade, o único quesito da ficha técnica que deixa o público com gostinho de quero mais é a música. Não que a direção musical de Débora Garcia não seja boa. Pelo contrário: a música enche de graça as poucas cenas em que é utilizada. É muito rico no teatro o fato de os atores tocarem instrumentos musicais e cantarem ao vivo, e parece que isso não foi devidamente valorizado neste espetáculo. Não se sabe se por uma limitação do elenco ou por uma opção da direção.

Mesmo que Couro de Piolho necessite de pequenas mudanças para ficar ainda melhor, o espetáculo dirigido por Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves mantém a qualidade dos trabalhos anteriores da Cia. de Teatro Artesanal.