Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 01.06.2003
Maroquinhas Fru-Fru: Bernardo Jablonski dirige uma peça singular de Maria Clara Machado
Um clássico que aborda um assunto atualíssimo
Maroquinhas Fru-Fru, encenada pela primeira vez em 1961, é uma peça singular na obra de Maria Clara Machado por revelar ao público o lado mais sombrio do ser humano – mesmo que seja de uma forma muito condescendente e bem-humorada. O texto está de volta em cartaz no Teatro Maria Clara Machado/Planetário, sob a direção de Bernardo Jablonski, um dos discípulos da dramaturga.
Concorrentes querem a fama como prêmio principal
A trama da peça se desenrola a partir de um concurso de bolos de chocolate, no qual vence a ingênua Maroquinhas Fru-Fru, a única entre as competidoras que sonha em ganhar o prêmio honestamente. As demais tentam subornar os juízes de todas as formas. Elas oferecem desde deliciosos bolos até a própria mão em casamento. Isso porque, mais do que o prêmio (um colar de pérolas), elas querem a fama! Elas querem ser famosas, nem que seja por 15 minutos. Existe assunto mais atual?
Há ainda na trama os interessados em conquistar o coração da bela Fru-Fru. Alguns, como o guarda Damião e o sacristão Eulálio Cruzes, por amor. E outros, como o perverso Ubaldino Pepitas, por ambição. Enfim, nada foi escondido das crianças. Os vilões de Maroquinhas Fru-Fru invejam, trapaceiam, roubam e corrompem, exatamente como acontece fora da ficção. Mas tudo de uma forma muito amena e divertida.
Os 13 atores da peça têm atuações equilibradas, mas alguns deles estabelecem uma empatia maior com a plateia. Como Teresa Seiblitz, que compõe uma Maroquinhas ao mesmo tempo ingênua e faceira. Como parecia desejar a autora. Afinal, uma jovem tão disputada precisa ter mesmo borogodó. Os guardas Cosme, vivido por André Stock, e Damião, por William Guimarães, chegam a irritar a plateia com, sua ingenuidade. Estão ótimos, embora William arranque mais gargalhadas da plateia nas cenas em que revela seu amor pela mocinha.
Daniela Ocampo, a Dona Bolandina, Salvatore Guiliano, o ladrão, Viviana Rocha, a mais espevitada das irmãs Flores, e Fernando Caruso, o sacristão, divertem a plateia.
Cenas ágeis e engraçadas para adultos e crianças
Um dos destaques do espetáculo é o figurino de Marcelo Marques. Lindo e funcional. Tecidos nobres, roupas bem costuradas – tudo sintonizado com a ideia da peça. Merece um elogio especial a coreografia de Renato Vieira. Não é nada simples fazer com que os atores dancem e sejam engraçados ao mesmo tempo.
O cenário de José Dias funciona bem, assim como a iluminação de Aurélio de Simoni. E Luce faz um bom trabalho nos arranjos das músicas de Carlos Lyra e na criação da trilha incidental.
Bernardo Jablonski valoriza tudo de bom que o espetáculo reúne, criando cenas muito ágeis e engraçadas, tanto para as crianças quanto para os adultos. Só um pequeno detalhe causa estranheza na montagem: por que os bolos são todos branquinhos, se o ponto de partida da peça é um concurso de bolos de chocolate?