Os Adereços não ajudam na composição dos personagens

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 26.05.2003

 

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Loja de Brinquedos: No Teatro das Artes, elenco que dá conta do recado

Entre altos e baixo, musical sobre dividir consegue divertir as crianças

O musical infantil de sapateado Loja de Brinquedos, em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, tem uma história singela: uma menina rica entra numa Loja de Brinquedos e não consegue se interessar por nenhum, porque já tem praticamente todos. No decorrer da peça, ela acaba descobrindo que não adianta uma criança ter tudo se não tem com quem compartilhar.

A ideia é boa. E pertinente para os dias de hoje, quando muitas crianças, filhas únicas, não têm a menor ideia do que seja dividir. Mas não é tão bem explorada quanto poderia ser. Seguindo a fórmula dos musicais para adultos, Cláudio Figueira criou um texto que funciona como um tênue fio condutor para os números de canto e dança do espetáculo.

Mais acertos no elenco do que na ficha técnica

O elenco reúne 13 artistas – dançarinos que interpretam, atores que dançam e cantam. E alguns se saem melhor numa tarefa do que nas outras. O que é normal. Não é fácil para os produtores de musicais fecharem um elenco que dê conta do recado nos três campos de atuação.

Os diretores do musical, Carlos Thiré e Cláudio Figueira, procuraram encontrar os artistas certos para cada personagem, exigindo mais de cada um em sua própria área. O que foi uma decisão acertada. Dentro dessa proposta, as atrizes-bailarinas fazem bonito quando executam com graça e leveza as coreografias do espetáculo. E os atores têm chance de mostrar o que sabem fazer nas pequenas cenas que costuram o espetáculo.

No numeroso elenco, destacam-se algumas atuações. Entre elas, a de Marcius Melhem, o Trovão. Além de ter um ótimo trabalho corporal, o ator compõe o personagem que representa o mal com muita propriedade, mexendo com a imaginação dos pequenos. Ponto, para o vilão. Antonio Fragoso também acerta na composição do menino de rua. A cena em que ele interpreta seu rap (ou algo parecido com isso…) é um dos bons momentos da peça. A dupla Taga-Rela, formada pelas atrizes Maria Clara Gueiros e Alexandra Richter, também é bem divertida, mas a cena poderia ser enxugada para ser valorizada. O excesso às vezes atrapalha.

Talvez muito preocupados com os números de canto e dança, os diretores não tenham dado a devida importância aos outros elementos que compõem o espetáculo.

O cenário de Clívia Cohen, um telão pintado que simula as prateleiras de uma Loja de Brinquedos, não acrescenta muito ao musical. E o figurino de Marcelo Oliveira também deixa a desejar. As bonequinhas coladas nas cabeças dos atores parecem incômodas e não ajudam em nada na composição dos personagens. De uma forma geral, o figurino da peça é exageradamente colorido.

O compositor Allison Ambrósio acerta em alguns números e, em outros, escorrega. Parece que ele acerta quando se preocupa mais com a qualidade da música do que em animar as crianças. E Fernanda Mantovani se sai bem na iluminação.

Ainda que os diretores de Loja de Brinquedos não tenham acertado em tudo, fica claro para o público que eles tiveram a preocupação de fazer um espetáculo bem cuidado. E as crianças, principalmente as pequenas, acabam se divertindo bastante.