Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 07.12.2003
Branca de Neve: Musical infantil em cartaz no Teatro Leblon conta história de trás para frente
Conto de fadas ao contrário
Branca de Neve, em cartaz no Teatro Leblon, é uma livre adaptação de Regiana Antonini, também diretora da peça, para o clássico dos Irmãos Grimm. No musical, a história é contada de trás para frente: logo no início, o público vê a protagonista sendo apresentada à família do príncipe, depois de ter sobrevivido às armadilhas, aprontadas pela madrasta malvada. Essa é apenas uma das interferências da diretora na trama. Algumas são realizadas com sucesso. Outras, nem tanto.
O musical tem um elenco grande. Ao todo são 18 atores, muitos deles crianças e adolescentes – o que, aliás, está muito comum no teatro infantil. E as crianças em cena, em geral, são muito engraçadinhas, espontâneas… enfim, elas procuram fazer seu trabalho com a maior seriedade possível. Entre os jovens atores está Cecília Dassi, da novela “Mulheres apaixonadas”, que faz um bom trabalho incorporando a ingênua Branca de Neve.
Suzana Pires, a vilã, dá um show
Na atuação do elenco adulto, há um certo exagero que poderia ser enxugado: os atores, de uma forma geral, gritam muito em cena. Sem levar isso em conta, há boas interpretações como as dos atores Mário Mendes, o rei Bernardo, e Rachel Antonini, a rainha Constância. Eles formam um casal divertido. Ricca Barros, como caçador, também dá conta do recado. Mas, na verdade, quem rouba a cena é a madrasta vivida por Suzana Pires. A vilã dá um show. E suas cenas com o espelho mágico (Aldebaran Bastos) e a gata preta (Giovanna Antonini) são as mais estimulantes do espetáculo. Também é muito divertida a participação de Daniela Procópio, que representa uma velha nordestina – na realidade, a própria madrasta, que erra um feitiço para mudar sua aparência. E essa transformação repentina é uma das boas ideias de Regiana na peça.
Já os outros personagens criados para a história não têm muito sentido. Na realidade, eles alongam o, espetáculo além do necessário. Uma peça para crianças com 90 minutos de duração é um exagero: elas acabam ficando cansadas e dispersas. Parece que, neste caso, o fato de Regiana ser autora e diretora de Branca de Neve não foi produtivo para o espetáculo. Talvez um outro diretor, com uma visão mais distanciada do texto, pudesse sugerir alguns cortes que certamente contribuiriam para a manutenção do ritmo do musical.
A parte técnica da peça é irregular. Talvez porque não seja fácil recriar no palco o clima fantasioso dos contos de fadas, sem cair no lugar-comum. Teca Fichinsky, por exemplo, acerta na criação dos figurinos, mas deixa a desejar no cenário, com seus grandes painéis que remetem àqueles, criados para as festas de aniversário para crianças. Na iluminação, Marcelo Gonçalves parece estar preso a um padrão que prega o acende-apaga de luzes coloridas nas cenas de suspense ou de maior movimentação no palco. A trilha sonora de Marcelo Neves e Inez Viana, assim como a coreografia de Mareliz Rodrigues, tem altos e baixos. Já Cláudio Galvan se sai bem na preparação vocal, uma vez que todos os atores conseguem um bom rendimento na interpretação de seus números musicais.
Branca de Neve, de Regiana Antonini, é um espetáculo cheio de boas intenções, mas que precisa de alguns ajustes para que consiga estabelecer uma empatia maior com o público infantil.