Crítica publicada no Site CEPETIN
Por Daniel Schenker – Rio de Janeiro – 24.03.2008
O Nariz de Prata
Um espetáculo que respeita o espaço da plateia
A partir da fábula Nariz de Prata, de Ítalo Calvino, Vanessa Dantas escreveu seu texto, transportado para a cena por Susanna Kruger em montagem atualmente em cartaz no Teatro do Jockey. A principal característica deste trabalho – e também sua maior qualidade – é o fato de, ao contrário de diversos espetáculos infanto-juvenis, não buscar de forma algo desesperada a atenção dos espectadores mirins.
O Nariz de Prata é uma encenação que não invade a plateia. Não se trata de condenar a quebra de fronteira entre o espaço da cena e o do público, alvo de investigações bem pertinentes no teatro contemporâneo. Mas muitas vezes os artistas buscam estabelecer um diálogo com as crianças que resulta como interação forçada, problema que não acomete a montagem de Susanna Kruger. Mesmo sem extravasar o palco, as criações que compõem O Nariz de Prata são atraentes. Ronald Teixeira aproveita em sua cenografia a plasticidade de coloridos retalhos de pano. Parece apenas um pouco indefinida a solução encontrada para delimitar a estrada desconhecida trilhada pelo Conde D’Argento com as filhas da lavadeira, na medida em que a retirada dos panos coloridos das laterais do espaço não chega a sinalizar um efeito de transparência, aparentemente desejado. Na iluminação, Aurélio de Simoni mescla de modo oportuno a tonalidade quente do “núcleo das lavadeiras” com o azulado do sinistro castelo do Conde.
Parte do resultado também deve ser creditada à composição de Felipe Martins como o Conde D’Argento, que transita entre doses contrastantes de docilidade e perversão na construção do personagem que aprisiona moças atiçadas pela curiosidade em descobrir o que existe dentro de um quarto proibido… Já Helena Stewart, Sofia Torres, Thaís Velloso e a própria Vanessa Dantas apresentam resultado interpretativo bem mais modesto. Seja como for, não seria justo deixar de sinalizar a qualidade das intervenções sonoras de João Gabriel, bem aproveitadas em cena na produção de atmosferas envolventes.