Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 26.09.1981
Viagem criativa pelo corpo humano
Sem discussão, é um bom espetáculo considerando-se, além disso, que o autor do texto, André Felipe Mauro, tem 16 anos, o resultado torna-se ainda mais surpreendente, Vira-Avesso, em cartaz no teatro Dulcina é a consequência concreta da proposta do grupo Além da Lua que montou, ano passado, Pequeninos, mas Resolvem; adolescentes fazendo teatro para adolescentes. O jovem, de um modo geral sempre arredio às programações classificadas “para adolescentes”, não tem comparecido muito. A maioria do público era de crianças, que pareciam curtir bastante a encenação; mas, para a plateia juvenil, Vira-Avesso apresenta, indiscutivelmente, vários pontos de interesse. A ideia do texto é bem original; seres de outro planeta, acostumados, a aventura na imensidão do espaço, acabam realizando uma expedição pelo espaço exíguo do interior do corpo de um terráqueo. No caso, um terráqueo bêbado, dado que fica ainda mais claro para o espectador quando a expedição chega ao fígado. Dentro do corpo a aventura se desenvolve em encontros diversos; com o poder e a segurança (Glóbulo Brancos), os marginais (as Bactérias), os neuróticos (o Nervo Neurótico), etc. Toda a “aventura” transcorre muito bem, mas no texto, falta uma certa dose de clareza para que se perceba, nitidamente, a intenção do autor: a esperança está na criança, pois o adulto “investigado” pelos seres espaciais (depois de miniaturizados, é claro!) não cuida bem de seu corpo (seu fígado que o diga!). Essa proposta, anunciada nos textos de divulgação do espetáculo, realmente não chega com clareza ao público. A encenação de Milton Dobbin (sua estreia como diretor depois de ser um ator premiado?) é viva, alegre, musical, carnavalesca, bem humorada. O espetáculo corre bastante bem, sendo que acena das “Bactérias” (bem bolada) acaba se estendendo demais e perdendo gradativamente o interesse. Também sua intenção de “mostrar o dia de um funcionário público tão oprimido por uma vida apertada que, por uma catarse necessária e vital, cai no samba” não chega até o espectador que, na verdade, acompanha apenas – e bem – a viagem pelo interior do homem. Auxiliam a direção enormemente os figurinos (do próprio grupo), a direção musical de Cláudio Savietto e as músicas de André Felipe Mauro, Cláudia Felippe e Patrícia de Mauro. O elenco, além dos três citados, é formado ainda por Bianca Byington, Flávio Klinger, Lícia Manzo, Luciana Almeida e Rogério Fabiano Jr.: um grupo de atores bastante seguro, com boa dose de juventude e charme. Destaque especial para o trabalho de André Felipe Mauro, principalmente na interpretação da canção do neurótico.
Eis um bom espetáculo à disposição do público, infelizmente, não tem estado muito à disposição do espetáculo que teve, no último fim de semana, uma frequência muito baixa. Quem se animar a viajar a viajar com os seres do espaço através do corpo humano, que aproveita agora, pois a peça deverá sair de cartaz.
Hoje, depois da segunda sessão de O Menino Maluquinho (que começa às 17 horas) haverá uma grande festa para todos os espectadores no palco do Teatro Vanucci: O Menino Maluquinho fará uma festa de aniversário comemorando cem representações (sete meses em cartaz) e um público impressionante (em termos de teatro infantil e boa parte das peças para adultos): vinte mil espectadores. Um enorme bolo será distribuído pelos presentes e as crianças terão tudo aquilo a que têm direito numa festa de aniversário; refrigerantes, apitos, uma certa confusão e correria, língua de sogra e muita alegria.