Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 25.07.1981

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Viagem à criatividade

Viagem à Imaginação, de Ronaldo Ciambroni, em cartaz no Teatro Alaska, é um bom exemplo de como um diretor criativo consegue fazer um bonito espetáculo a partir de um texto tão frágil. A encenação, concebida e executada por Adhelmar de Oliveira, tem uma grande expressividade visual, um ritmo ágil, forte grau de comunicação com as crianças. Evidente que, para a realização de um bom musical, é fundamental também a participação de um diretor para essa área específica. E Nelson Melin, diretor musical de Viagem à Imaginação, consegue excelentes resultados: elenco muito bem ensaiado, cantando afinado e em mais de uma voz, levando ao público, de modo interessante, não apenas o que se canta, mas como se canta. Também o elenco contribui para o sucesso da encenação. Sem que se possa destacar algum trabalho de interpretação pelo brilho pessoal, pode-se, entretanto, elogia, o elenco pela sua homogeneidade, pela segurança e, principalmente, pela vida, pela energia que os atores transmitem no palco. Tudo isso mais os belíssimos figurinos (de Adhelmar de Oliveira) e as expressivas maquilagens conseguiram transformar um texto ingênuo e frágil, na sua estrutura, em um belo espetáculo.

E por que o texto é ingênuo e frágil? Porque escamoteia a realidade e não alcança uma dimensão suficientemente forte para caminhar pelas trilhas da fantasia. Um palhaço triste porque perdeu seu emprego no circo encontra crianças que não se satisfazem com as brincadeiras mais comuns (super-heróis da televisão, Sítio do Picapau Amarelo, etc). O palhaço diz que precisam usar a imaginação. E, neste instante, apesar de a direção ter buscado um ritmo ágil e uma movimentação dinâmica, a peça cai, porque o papo entre o palhaço e as crianças não tem o menor interesse, com diálogos como “Explica pra gente o que é imaginação”; ou, ainda “Se imaginou, aconteceu”. As crianças, com os “sábios” ensinamentos do palhaço, aprendem a brincar com a imaginação (e um dos momentos mais bonitos do espetáculo é a cena das mãos expressivas), mas percebem que o palhaço esta triste porque continua sem circo. Baseados no ensinamento aprendido (“Imaginou, aconteceu”) criam um circo de imaginação para o palhaço ficar feliz. Desta forma, a simples imaginação resolveu a ausência de emprego; devolveu a alegria perdida pelo palhaço, substituindo a nostalgia do circo verdadeiro. Desta forma, para as crianças, serão resolvidos (não serão) todos os problemas do mundo: o medo do dentista, o exercício de matemática, as repressões do pai, da mãe, do síndico, da diretora da escola etc. Basta usar a imaginação e teremos um mundo novo: um mundo tão frágil e desestruturado que surge-desaparece ao placar de olhos; um mundo tão frágil e desestruturado como o circo criado para o palhaço sem emprego, de noite, quando deitar para dormir, apenas a imaginação (“Imaginou, aconteceu”) não será suficiente para livrá-lo da fome, do frio, da solidão.