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Desde o mês de março de 2016, o Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude (CBTIJ) está publicando, por capítulos, a dissertação de mestrado “Bando de Brincantes: um Caminho Dialético no Teatro para Crianças”[1], de autoria de Viviane Juguero. O trabalho, realizado sob a orientação do Prof. Dr. João Pedro Alcantara Gil, foi aprovado com louvor, em 2014, no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

No capítulo a seguir, a autora relata a trajetória do Bando de Brincantes até maio de 2014, momento da conclusão dessa dissertação. Além disso, elucida o que é esse coletivo de arte e como funciona, bem como as origens de seu nome. Viviane trata também da importância da escuta, do diálogo e da aprendizagem recíproca entre o artista-educador e seus alunos, sejam crianças ou adolescentes.

Bando de Brincantes [2]

Uma árvore não pode crescer saudável se não tiver raízes fortes. O Bando de Brincantes é fruto de uma longa trajetória que não pode ser suprimida desse relato, para uma percepção mais profunda do processo dialético de sua construção.

A palavra dialética vem do grego, diá, advérbio e preposição que significa separação, e lektikós, capaz de falar, conveniente ao diálogo. A raiz da palavra, portanto, é a mesma de diálogo, que quer dizer dualidade de razões. Historicamente, a contradição sempre fez parte do raciocínio humano (GIL, 1999, p. 29).

Assim, estando em permanente construção e transformação, os traços que desenham o trabalho do Bando de Brincantes estão sempre em diálogo com os trajetos que levaram à sua criação. Como idealizadora e artista criadora no Bando de Brincantes, a minha história com a arte é um capítulo importante para a compreensão das práticas atuais desse coletivo. É no entrelaçamento dessas vivências com as dos demais artistas, na dialética das ideias e experiências brincantes, que surge esse bando.

1. Traços e trajetos

Quando criança, nunca fui ao teatro, mas lembro de ter visto umas poucas peças no auditório do Colégio São Luiz. Dessa experiência, o que recordo melhor é da apresentação da comédia Julieu e Rometa, com texto e direção da minha mãe, que era a professora coordenadora do grêmio estudantil da escola, além de lecionar Estudos Sociais [3]. Os atores eram alunos do que hoje chamamos de séries finais do Ensino Fundamental. Eu estava na pré-escola (atual Educação Infantil) e participava de pequenas apresentações, além de cantar no coral, no qual permaneci até o 5º ano. Nas séries finais, fui a bruxa do clássico Branca de Neve e a protagonista Mariana de uma adaptação que fizemos de A Porta Mágica, de Haroldo Magalhães. No 1º ano do então 2º grau, para a aula de literatura, escrevi uma adaptação para peça O Diletante, de Martins Pena, situando-a na periferia de Porto Alegre. Eu atuava e dirigia. Não tínhamos um professor auxiliando nos ensaios, muito menos orientação de alguém com conhecimento na área teatral.

Outras experiências que considero muito importantes são as apresentações realizadas para minha família nas férias em Bagé, ao lado de minha prima Anelise e contando com o auxílio, apoio, entusiasmo e produção de minha amada tia Sayô Martins, que criava figurinos, adereços e coreografias. Ela era a apresentadora e a grande estimuladora dessa brincadeira expressiva. Da cultura de Bagé, fica a carne assada em fogo de chão, as bergamotas no galinheiro, o chimarrão e os muitos ditos populares, citados a cada frase, por meu pai e tios, além dos belos compuestos declamados por meu avô, até os cento e três anos de idade.

Em Porto Alegre, a partir dos sete anos, no condomínio da rua Orfanatrófio, criava apresentações com minhas amigas Kika, Marúcia, Lizi e muitas outras crianças. Por breves períodos (não mais que um ano), no salão do condomínio, fiz aulas de balé e confecção de bonecos. Além disso, criávamos histórias incríveis, como os “mapas do tesouro”, com a Lívia, e as brincadeiras de detetive, com direito a coreografia de abertura nas escadas do prédio da Kika, com todas as meninas. Em minha história nos caminhos que levaram à arte, a parceria criativa e o apoio de minha irmã Cristiane, em todos os momentos da minha vida, com certeza, foram determinantes e imprescindíveis para que tudo isso fosse possível.

De 1991 a 1993, participei de oficina de teatro [4] ministrada pelo professor Clóvis Massa, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Nesse período, nesse colégio, aprendi a tocar violão, cantava no coral e descobri que temos de nos posicionar, ter opinião e agir em relação às questões sociais. Participava de passeatas e de discussões com os colegas. Embora estivesse longe de ser uma aluna exemplar, sempre passava de ano.

Nas oficinas de teatro, percebi que era preciso olhar e enxergar o outro de verdade; estando entregue ao trabalho coletivo de corpo e alma, pois, sem isso, não é possível improvisar uma cena. Nessa época, aprendi a ler partitura, estudando flauta com Mário Marmontel, na Casa de Cultura Mario Quintana.

Em 1991, assisti a dois trabalhos que me marcaram muito: Antígona, Ritos de Paixão e Morte, na Terreira da Tribo, com o grupo Ói nóis aqui traveiz e A Galinha Idiota, com atuação de Sandra Dani, direção de Luiz Paulo Vasconcellos e assistência de direção de Clóvis Massa. Essas duas peças me ensinaram o que era teatro de verdade, me ensinaram que a genuína arte teatral desestabiliza, apresenta perguntas instigantes e não respostas prontas; mexe com os sentidos e as percepções.

Iniciei minha atuação profissional na Trupe de Experimentos Teatrais Bumba Meu Bobo, dirigida por Jessé Oliveira. Em 1994, a Trupe realizou dois espetáculos: A Roupa Nova do Rei (teatro para crianças), com texto adaptado por Roberto Oliveira, a partir da obra de Hans Christian Andersen e Panis et Circenses… para o Povo (teatro de rua), com roteiro de Jessé Oliveira, o qual a definia como uma comédia farsesca sobre a alienação do prazer na sociedade de consumo (2010, p.37). A partir de então, comecei a viver teatro diariamente.

Todos os nossos ensaios eram permeados por fervorosas discussões éticas e estéticas. Jessé Oliveira me ensinou que o teatro para crianças deve convidá-las a decodificarem ativamente os diferentes signos, por meio de todas as percepções possíveis. Oliveira me mostrou que o teatro de rua é uma importante ferramenta político-social para viabilizar a democracia cultural e que é um veículo importante para dialogar criativa e respeitosamente com a cultura popular. Como ele mesmo diz, o teatro de rua é, antes de tudo, meio e fim no que diz respeito a sua importância no imaginário das cidades e no processo de conscientização política (OLIVEIRA, J. 2010, p.12).

O Bando de Brincantes herdou da Trupe Bumba Meu Bobo e do Movimento de Teatro de Rua dos anos 1990, raízes éticas consistentes, como, por exemplo, a ideia de haver um comprometimento com a coletividade, pensando a arte teatral não como um meio de atingir o sucesso pessoal, mas como instrumento para transformar a sociedade (OLIVEIRA, J. 2010, p.36). Além disso, o teatro de rua trabalha com diversas camadas de interferências de outras linguagens (OLIVEIRA, J. 2010, p.19), o que verificamos em todos os espetáculos do Bando de Brincantes.

A Trupe realizou diversos trabalhos, mas um, em especial, é diretamente relacionado à história do Bando. Em 1999, montamos o espetáculo de teatro de rua A Guarda Cuidadosa, a partir de texto de Miguel de Cervantes. Nesse trabalho, a concepção do diretor Jessé Oliveira situava a peça no Rio Grande do Sul, dialogando com a origem espanhola do povo gaúcho. Assim, dentro dos experimentos de sonoridades que realizei [5], foram pesquisadas diversas cantigas de roda, das quais menos de uma dezena foi usada no trabalho. Após a estreia da peça, segui pesquisando cantigas e o universo folclórico, encantada com as sonoridades e com as inúmeras reflexões que esse material suscitava sobre o universo infantil e a cultura genuinamente popular.

Essa relação íntima entre teatro e música, que se iniciou no Colégio Júlio de Castilhos, teve continuidade em minha formação e atuação profissional. Em 1995, ingressei no curso de bacharelado em Interpretação Teatral do Departamento de Arte Dramática (DAD) da UFRGS. Nessa universidade, aprendi muito com diversos professores durante a graduação (1995-1999), a especialização (2001-2003) e o mestrado (2011-2014).

Ecoam de forma mais explícita, no trabalho do Bando de Brincantes, os aprendizados sobre teatro político, ao estudar Bertold Brecht e Augusto Boal com o professor Flávio Mainieri, com o qual também aprendi muito sobre dramaturgia, aprimorando os conhecimentos sobre a área nas discussões estéticas com o professor Antônio Hohlfeldt e técnicas com o professor Luiz Paulo Vasconcellos (depois de formada, em curso no TEPA [6], em 2003).

Ainda na graduação, as professoras Maria Lúcia Raymundo e Carmem Lenora foram marcantes no desenvolvimento da percepção e da expressividade corporal, além da interpretação teatral propriamente dita. O trabalho mais vivamente presente no Bando de Brincantes é o da professora Marlene Goidanich, com a qual estudei expressão vocal em diversas cadeiras na graduação e fiz aulas particulares durante muito tempo. Goidanich fez ainda a preparação vocal de Canto de Cravo e Rosa, e os exercícios por ela ensinados permanecem no treinamento de todos os trabalhos do Bando.

Enquanto cursava a graduação, realizei diversos cursos de extensão de teoria e percepção musical e de composição [7], na Faculdade de Música da UFRGS, sempre com uma produção artística permanente.

Na especialização, além do já citado professor Flávio Mainieri, os estudos pedagógicos do professor João Pedro Alcantara Gil e as análises semióticas e estudos de recepção de Clóvis Massa, contribuíram sobremaneira para um aprofundamento na compreensão da relação da criação da obra de arte como um diálogo permanente com os referenciais do público. Pude aprofundar os estudos com os dois últimos professores nas aulas do mestrado. Também no mestrado, muito aprimorei meus conhecimentos, graças às contribuições das professoras que nomeio a seguir: Mirna Spritzer, que propiciou uma profunda percepção do processo de criação por meio de uma abordagem nada convencional da palavra; Inês Marocco, que desenvolveu reflexões sobre etnocenologia; Sílvia Nunes, que discorreu sobre aspectos da redação da dissertação; e as professoras Marta Isaacsson e Mônica Dantas, que apresentaram importantes conhecimentos sobre performance e o desenvolvimento de linguagens cênicas contemporâneas. Destaco, em especial, a professora Vera Lúcia Bertoni dos Santos, que faz parte de meus estudos teóricos sobre a infância desde o início de 2005. Os estudos de Santos contribuíram de forma imensurável na criação e concepção dos trabalhos do Bando de Brincantes.

Em 2004, realizei o primeiro espetáculo com texto de minha autoria. Chamava-se Desencontros [8].Era teatro para adultos. Eu dirigia e atuava ao lado de Daniel Freitas, Raquel Alfonsin e Paulo Bocca, contando com trilha sonora original de Christian Benvenuti, dentre outros integrantes da equipe técnica. O trabalho recebeu ótimos comentários, inclusive nas críticas redigidas por Antônio Hohlfeldt, publicadas no Jornal do Comércio [9]. No mesmo ano, recebi o Prêmio Habitasul Revelação Literária na Feira, pelo texto Cristina, que foi publicado no livro dessa edição do Prêmio [10]. No ano seguinte, o texto foi integrante do projeto vencedor do Prêmio Montagem Cênica [11], constituindo uma das cenas do espetáculo 3 X Amor e Morte, com direção de Dilmar Messias e atuação de Adriane Azevedo e João França. Com certeza, foram fatos importantes em minha trajetória autoral.

Também em 2004, conheci o programa Quem quer brincar? da FACED/UFRGS [12] que apoiou o trabalho que eu realizava com crianças desde 2003 e, até hoje, incentiva e reconhece as realizações do Bando de Brincantes, o qual bebe nas sábias águas de materiais fornecidos por este programa.

Como disse no prólogo, em 2003, iniciei um intenso trabalho diário, o qual chamava de encontros de Arte e Expressão, que foi realizado em instituições de Educação Infantil (Escola Curumim, Escola Aprender e três unidades da Mãe Comerciária). Nesses encontros, por meio de atividades que utilizavam recursos do teatro, da música, dança e literatura, eu buscava trabalhar com a retroalimentação criativa, construindo atividades que dialogassem com a expressividade das crianças. Assim foram criadas as canções e atividades de Jogos de Inventar, Cantar e Dançar e os exercícios Diálogos de mundos lúdicos, que uso com muita frequência em cursos de formação de professores.

É interessante relatar que essa proposta de estar com a escuta atenta aos alunos iniciou bem antes, quando fui professora de teatro [13], por alguns meses, na antiga FEBEM [14], em 2001. Os adolescentes falavam uma linguagem própria, incompreensível para quem não fazia parte daquele grupo social. Para poder dialogar de fato com eles, busquei valorizar os conhecimentos próprios da cultura que vivenciavam todos os dias. Propus que fizéssemos uma permuta de aprendizagens e assim, começamos a trocar experiências e conhecimentos… A primeira troca foi entre as definições das palavras mascada [15] e maniqueísta. Trocamos também experiências expressivas. A turma realizava exercícios teatrais que eu propunha, e eles me ensinavam passos e músicas de hip-hop. Eu os convidava a cantar samba ou bossa-nova, comigo ao violão e com eles na percussão, e eles apresentavam outra proposta a seguir. Nesse processo, os adolescentes criaram textos, figurinos, cenário e trilha sonora de sua apresentação, a partir de fatos relevantes de suas realidades, viabilizando importantes reflexões. Dessa maneira, aprendi que, para ensinar algo, é preciso sempre estar disposto a aprender, valorizando o conhecimento dos alunos, em qualquer idade, e abrindo portas para novas experiências.
Encerrei o trabalho em escolas de Educação Infantil em 2007, quando assumi a direção do Teatro de Arena de Porto Alegre, onde lutei muito para fazer minhas ideologias virarem centenas de atividades culturais. As experiências do Arena, aliadas às da realização do Curso Superior de Tecnologia em Produção Cênica [16], que idealizei [17] em 2010, e coordenei no ano de sua implementação (2011), também ecoam no Bando de Brincantes, em especial na forma como o trabalho é administrado, criando relações profissionais comprometidas e ações empreendedoras. Nesse sentido, apresento o depoimento dos brincantes Monika Papescu [18] e Anderson Gonçalves [19]:

Tenho acompanhado o trabalho do Bando de Brincantes desde o Canto de Cravo e Rosa. É animador perceber um amadurecimento estético e profissional do trabalho do Bando. São poucos os grupos que se preocupam não somente com o espetáculo, mas com tudo que envolve a realidade do projeto; o espetáculo, sua divulgação, o envolvimento das crianças, o trabalho paralelo com educadores e apresentação de aspectos pedagógicos do projeto. E também a participação de eventos como o Dia do Brincar criado pelo Bando para o público infantil, adulto e estudantes. Não podemos deixar de lado o setor empresarial do Bando, sua visão empreendedora e cuidado financeiro para que todos do grupo sejam contemplados, sintam-se valorizados e honrados em fazer parte do Bando de Brincantes (Papescu).

O trabalho do Bando de Brincantes se destaca pela versatilidade dos integrantes e pela maneira como são vistos pela coordenação da Viviane Juguero. Existe uma relação aonde todos, todos mesmo, são considerados “Brincantes”. O iluminador, o bilheteiro, os atores, músicos, pessoal do apoio de mídia e divulgação, cada um é considerado parte desse todo e somos sempre tratados com muito respeito, algo difícil muitas vezes de se encontrar em coletivos artísticos (Gonçalves).

Registro a colaboração de meu irmão, Emmanuel, no que se refere ao meu aprendizado em gestão de recursos, fundamental para a administração do Bando de Brincantes.

Outro depoimento interessante sobre as práticas do Bando é o de José Renato Lopes [20], estudante do Curso de Produção Cênica das Faculdades Monteiro Lobato:

Qual a melhor forma de por em pratica meu trabalho como produtor cênico do que estar ao lado da pessoa que vibra e transpira produção e além disso trata seus colegas de trabalho com o respeito e a generosidade que todos sempre queremos ser tratados ao trabalharmos com arte?

Lá fui e desde então, tanto na turnê, quanto na temporada que veio a seguir, me percebi, não só contaminado pelo fazer artístico do bando, mas já me sinto um brincante também!!!

Relatei alguns passos desse trajeto e percepções de colegas que dialogam com a realidade atual do Bando de Brincantes. Não contei os fatos de forma cronologicamente progressiva porque isso não seria possível. Essas experiências estão completamente atravessadas em um processo dialético contínuo e interminável. A todo o momento sou revisitada por essas memórias e elas ganham novos significados junto com todos os demais conhecimentos e vivências dos outros brincantes.

2. Caminho entre as ideias brincantes [21]

A trajetória que culminou em Canto de Cravo e Rosa e em Jogos de Inventar, Cantar e dançar aconteceu paralelamente, em anos de amadurecimento das propostas e de muito, mas muito suor para torná-las realidade. Em 2004, todas as escolas começaram a insistir para ter em CD as canções compostas para os encontros de Arte e Expressão. Em 2006, comecei a ministrar cursos de formação de professores e agentes culturais, a convite do SESC e de outras instituições. Também os professores passaram a demonstrar interesse em ter um registro das atividades, dos textos e das canções que criei. Assim, após uma seleção dentre o material produzido, iniciou a longa luta para viabilizar projetos que se concretizaram entre 2007 e 2010.

As canções foram executadas em apresentação pública, pela primeira vez, em 2005, em evento do Dia do Comerciário, realizado pelo SINDEC [22], no Ginásio da Brigada Militar. Foi a primeira vez que usamos o nome Bando de Brincantes. Na equipe, além de mim, os músicos Toneco da Costa, Renato Muller, Jorge Vieira, Thiago Gonçalves e os atores Caio Prates, Janaina Pellizzon, João Carlos Castanha e Daniel Freitas. Depois dessa apresentação, foram realizadas algumas outras, com uma equipe menor (eu, Toneco, Thiago e Jorge, sendo que Jorge foi substituído por Éder Rosa, em 2007). Apresentamo-nos ainda, no Espaço Basttidores, contando com iluminação de Miguel Tamarajó (2006), na travessa dos Cataventos da Casa de Cultura Mario Quintana (2007) e na Feira do Livro de Porto Alegre (2007).

Enquanto as apresentações iniciais eram feitas, seguia a luta para conseguir os meios para gravar o CD. Foram escritos projetos para leis de incentivo, conquistados parceiros e, por vezes, a ideia quase foi abandonada, devido a tantas dificuldades. Havia um belo projeto aprovado na Lei Ruanet [23] mas, como a maioria dos projetos brasileiros aprovados nessa lei, apesar do esforço das três pessoas que trabalhavam na captação de recursos, nunca foi obtido um real de patrocínio. A realidade das leis de incentivo cultural brasileiras mereceria uma dissertação à parte.

Ao mesmo tempo, eu e o diretor Jessé Oliveira trabalhávamos no projeto para a realização de Canto de Cravo e Rosa com texto reescrito,com base na experiência de 2003, e com a proposta bastante amadurecida, devido aos estudos de Jessé sobre o universo popular brasileiro. Assim, apesar de sempre receber todas as recomendações, foi na quarta tentativa que o projeto foi aprovado no FUMPROARTE [24], viabilizando a montagem.

Em 2007, estreamos, com texto de minha autoria, direção e iluminação de Jessé Oliveira, direção musical de Toneco da Costa, figurinos de Raquel Cappelletto, cenário de Élcio Rossini e preparação vocal de Marlene Goidanich. No elenco, além de mim, Éder Rosa, Ana Cláudia Bernarecki, Rodrigo Marquez, Maico Silveira e Wagner Madeira. Nos anos seguintes, participaram de substituições no elenco os atores Valquíria Cardoso, Diego Neimar, Ravena Dutra e Álvaro RosaCosta. O espetáculo foi apresentado 77 vezes em 14 cidades.

Na época de estreia de Canto de Cravo e Rosa, ainda não havia a concepção que existe hoje do Bando de Brincantes. Ainda não se percebia que todas as ações faziam parte de uma mesma proposta artística e pedagógica. Dessa forma, havia o espetáculo Canto de Cravo e Rosa e o projeto Bando de Brincantes. Por isso, é tão difícil precisar o início do Bando de Brincantes, como o coletivo de arte que é hoje. O nome passou a englobar todas as ações, oficialmente, em 2008, mas a prática e o discurso já estavam presentes desde 2003. Assim, não há dúvidas de que a trajetória do Bando inicia em 2003, mas não tenho ideia de como fazer para contar quantos anos de existência esse coletivo de arte tem. Nasceu em 2003? Em 2005? Em 2008?

Canto de Cravo e Rosa teve um excelente resultado nos comentários do público e da crítica. Fato importante dessa história foi o enorme destaque que o trabalho recebeu ao ser escolhido pelo professor e crítico teatral, Antônio Hohlfeldt, em crítica publicada no Jornal do Comércio, em 04 de janeiro de 2010, como melhor espetáculo do ano de 2009, além de melhor figurino para Raquel Cappelletto; melhor direção musical para Toneco da Costa; melhor atriz para Viviane Juguero e melhor atriz coadjuvante para Ana Cláudia Bernarecki. Esse reconhecimento fez o Bando acreditar que estava no caminho certo e colocar mais energia em sua trajetória.

O livro com o texto do espetáculo foi lançado em 2009, pela Editora Libretos, contando com ilustrações de Ricardo Machado (criadas a partir de cenas, figurinos e máscaras do espetáculo, conforme ideia do diretor Jessé Oliveira), design gráfico de Clô Barcellos, revisão de textos de Sandra Juguero e assessoria na redação final de versos de Jorge Rein, o qual comenta:

Procurei, na revisão dos versos do “Canto de Cravo e Rosa”, voltar a ouvir os sons e o ritmo das palavras que marcaram a minha infância, a essência e a raiz de todo encantamento. Para isso, precisei crescer para dentro. Não é fácil, mas compensa.

Das informações que possuo sobre a utilização do texto, sei que foi apresentado em leituras dramáticas no projeto Teatro Lido (edições 2008, antes da publicação em livro, e 2013) [25], realizado em Juiz de Fora, sob a direção de Marcos Marinho. O texto também foi montado por um grupo teatral da terceira idade, em Florianópolis, no ano de 2012, sob a direção de Cíntia Lentz, além de ser utilizado em escolas.

O livro faz parte ainda dos estudos do professor de literatura da Faculdade de Erechim, Fabiano Grazioli, o qual apresentou a conferência Canto de Cravo e Rosa, de Viviane Juguero: apontamentos sobre a dramaturgia e a criança leitora no 5º. Seminário de Literatura Infantil e Juvenil de Santa Catarina. O material integra o projeto de doutorado do professor, o qual afirmou, em conversa online, na rede facebook:

No meu projeto de tese, eu selecionei várias obras para, na tese, formar o conceito de dramaturgia para a infância. O seu livro, justamente pela questão das rubricas, é o mais interessante do conjunto. É a partir dele que pretendo criar grande parte do conceito de que te falava (Grazioli, 26/6/2013).

Depois de uma longa jornada, contando com a colaboração de artistas e parceiros, com um investimento grande da produção e com o financiamento do FUMPROARTE (que custeou, mais ou menos 30% do investimento total), em 2010, foi lançado o trabalho Jogos de inventar, cantar e dançar,  em livro, CD e espetáculo. Nessa equipe, sou autora dos poemas e canções, assino a concepção geral e a coordenação pedagógica, assim como atuo no espetáculo onde canto a voz principal, como no CD.

No espetáculo, a direção de cena é de Jessé Oliveira e a direção musical e os arranjos são de Everton Rodrigues (arranjador e produtor musical do CD). Em cena, além de mim e do Everton, os músicos brincantes Toneco da Costa, Beth Mann, Renato Müller (também presentes na gravação) e Marcelo Rocha, além de Anderson Gonçalves e Carmen Lima (brincantes bonequeiros, responsáveis pela concepção e confecção dos bonecos e materiais cenográficos). Os figurinos são de Valquíria Cardoso e a iluminação é de Miguel Tamarajó. O CD contou ainda com o músico Jorge Vieira, o primeiro a incentivar e buscar meios de viabilizar a gravação. Sempre que possível, as apresentações têm sonorização feita por Paulo Kuhn e equipe. O livro, lançado pela Editora Libretos,  tem ilustrações de Monika Papescu, design gráfico de Clô Barcellos e revisão de Sandra Juguero.

O CD Jogos de Inventar, Cantar e Dançar recebeu Prêmio Açorianos de Música como Melhor CD Infantil lançado em 2010 e ganhou espaço no Brasil e no mundo. A todo o momento, sabemos da utilização do livro e do CD em escolas e lares de diversas cidades. Em 2011, o trabalho participou da Jornada Internacional de Literatura de Passo Fundo. Em 2012, Jogos de Inventar, Cantar e Dançar recebeu Troféu Especial do Prêmio Tibicuera de Teatro Infantil [26]. Em 2013, foi lançada a segunda edição do livro/CD, com apresentações no Teatro Renascença de Porto Alegre. O trabalho foi apresentado 58 vezes em 15 cidades.

Em outubro de 2012, estreou o espetáculo teatral Quaquarela. Nesse trabalho, assino dramaturgia e direção, além de atuar. Também fiz a idealização do cenário e a concepção dos figurinos. A musical e os arranjos são de Toneco da Costa, que está em cena, tocando violão e atuando comigo e Éder Rosa. Este último, além de participar como ator, foi responsável pela criação e confecção de materiais cenográficos e figurinos, assim como pela preparação corporal. A iluminação é de Miguel Tamarajó.

O trabalho obteve excelentes resultados de público e crítica. Novamente, o elogioso comentário redigido por Antônio Hohlfeldt, publicado no Jornal do Comércio, em 22 de março de 2013, foi de suma importância para o reconhecimento de nossa pesquisa cênica. Quaquarela recebeu três troféus no Prêmio Tibicuera de Teatro de 2013: Melhor Trilha Sonora, para Toneco da Costa; Melhor Ator, para Éder Rosa e Melhor Dramaturgia, para Viviane Juguero. Além disso, o espetáculo foi destacado com indicações para concorrer nas categorias Melhor Espetáculo, Melhor Espetáculo do Júri Popular, Melhor Direção, Melhor Atriz e Melhor Produção. O trabalho foi apresentado 73 vezes em 21 cidades, até maio de 2014.

Na equipe de produção de materiais de divulgação dos espetáculos, desde 2010, contamos com a arte gráfica da Propaganda Futebol Clube (com coordenação de Marcos Eizerik), configuração técnica do site feita por Marcelo Spalding e Tatiana Perez, locuções em áudios promocionais e institucionais de Telmo Martins (Estação Voz) e produção de VTs e edição de vídeos da Bactéria Filmes, sob a coordenação de Dani Israel e Pedro Marques. Desde 2011, Raul Fernando da Silva realiza o transporte e faz parte da equipe de apoio, em viagens do Bando. A direção de produção de todos os trabalhos é realizada por mim, contando com o auxílio de Éder Rosa, na produção executiva, além de outros brincantes, como José Renato Lopes, Michelle Perceval, Wagner Madeira e Anderson Rosa, em trabalhos específicos.

Além dos trabalhos citados, o Bando de Brincantes realiza oficinas e palestras, com regularidade. O programa de rádio DingLingRataplá, esteve no ar durante dois anos (2010-2012), com direção técnica de Telmo Martins. O monólogo Romualdo, a Chácara e o Rosilho, com textos de Simões Lopes Neto [27], foi apresentado em diversas escolas de Ensino Médio do estado, comigo na atuação e na assinatura do roteiro e direção de cena de Jessé Oliveira, em 2012, ano no qual o CD Natal Brincante foi lançado.

Em 2012 e 2013, o Bando realizou o projeto Maio-Mês do Brincar, com diversas atividades. Literatura Brincante, onde atuo ao lado de Éder Rosa e assino roteiro e direção, fez oito apresentações na Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo de 2013 e segue em atividade em 2014. Na Feira do Livro de Porto Alegre de 2013, foi lançado o primeiro livro da Série Diversidade, intitulado O Macaco Bacana, com texto de minha autoria e ilustrações de MonikaPapescu.

O Bando mantém ainda um site com informações e um informativo virtual enviado semanalmente, além de perfil na rede social facebook.

Pode parecer estranho que, em meio à exigente dedicação para o mestrado, o Bando tenha tantas atividades. No entanto, não haveria sentido em paralisar o trabalho, já que a intenção dessa pesquisa é justamente aprimorar o que está sendo feito. Por isso, considero fundamental que, paralelamente à reflexão teórica, beba-se na fonte da experiência, aqui e agora.

Como diz Gil, a prática é o critério de verdade da teoria, pois o conhecimento parte da prática e a ela volta dialeticamente (1991, p.7).

3 . Um coletivo de arte

Como visto, o Bando de Brincantes é um coletivo de arte que realiza diversas ações ligadas à arte e à educação, apresentando espetáculos, livros, CDs e promovendo oficinas, cursos e palestras. O Bando não foi fundado ou inaugurado.  A concepção que hoje temos do Bando de Brincantes é fruto de um amadurecimento de anos, em uma trajetória na qual as diversas práticas sempre foram permeadas pela reflexão. Não houve uma concepção prévia que iniciou um trabalho, mas sim, uma trajetória de trabalho que foi delimitando uma proposta em permanente evolução.

Segundo Anderson Gonçalves,

o mais interessante no trabalho do Bando é a forma como, de alguma maneira, todos os espetáculos  estão interligados e são fruto de longa pesquisa que inicia em sala de aula, na vivência professor-aluno da própria Viviane, em escolas nas classes de expressão e teatro para crianças. Essa vivência pedagógica, aliada à experiência da Viviane como atriz, faz com que cada obra tenha um viés educativo sem ser didático e chato por consequência, além de serem peças artísticas sem apelações e que apresentam conteúdo e forma muitas vezes inéditos.

O Bando de Brincantes não é um grupo na acepção tradicional utilizada pelos grupos de teatro. Há brincantes de diferentes projetos que nem se conhecem. A noção de bando traz uma ideia de aglomerado de pessoas. É uma opção por deixar clara uma relação embasada em vínculos artísticos e éticos, em projetos específicos. Rodrigo Marquez (28) afirma que o Bando de Brincantes é um coletivo de energia, alegria e compromisso, com um teatro de boa qualidade e aprofundado no teatro para crianças e adolescentes.

Bando de Brincantes é um grupo de profissionais de áreas diversas, todos ligados à cultura, que se dedicam, profissionalmente e “na vida”, à educação e multiplicação do conhecimento pela cultura, seja ela a literatura, música, teatro, artes plásticas, todos interligados por um só projeto do “Bando de Brincantes”. (Monica Papescu)

É um bando de gente que se reúne de forma não homogênea, em trabalhos diferentes. Ao mesmo tempo é um coletivo de arte com organização profissional e fruto de uma ação autoral de todos os brincantes. O brincante Toneco da Costa [29] afirma que o Bando de Brincantes é

uma usina de criatividade, ensinamentos e aprendizados, um foco claro e bem definido do que seja o “fazer arte para crianças”. (…) Vejo o trabalho do Bando de Brincantes com extrema criatividade, inventivo, com o dom da simplicidade que alcança a boa profundidade.  (…) É muito bom e uma grata satisfação ver os trabalhos do Bando, passando ao largo dos modismos e das mesmices, deixar marcas, estimular sensações e o privilégio de ganhar muitos e muitos novos amigos. O trabalho do Bando me faz bem.

Para o brincante Everton Rodrigues [30],

o Bando de Brincantes é um grupo de pessoas muito sérias. Liderados pela verve criativa de Viviane Juguero e muitas vezes contaminados por seu entusiasmo, um grupo de artistas com capacidades e vivências distintas que é capaz de produzir arte com um único propósito: o desenvolvimento da criança.

É um grupo de pessoas dispostas, com diferentes formações e capacidades, reunidos para fazer arte para crianças, respeitando seu imaginário e apostando em seu desenvolvimento.

Marcelo Rocha [31] diz que

o trabalho do bando de brincantes é lúdico, e o legal é que contagia, não só a gurizada, como a nós, que fazemos o espetáculo acontecer, e ao público adulto, resgatando em todos nós a criança interior.

Já Jorge Rein declara:

Vejo o Bando como um gesto lúdico, um jeito meigo e cúmplice de participar do universo infantil sem a prepotência – tão comum nos adultos – de impor regras ao jogo. Talvez venha daí, dessa postura de respeito à criança, a sintonia que os brincantes conseguem com seu público.  (…) Acredito que existem diversos caminhos, ruas, estradas e avenidas que conduzem a criança até a arte e vice-versa. Identifico no Bando um desses tantos acessos. Com certeza não é um beco.

Miguel Tamarajó [32] define o Bando como pessoas que acreditam no que fazem, e o fazem com todo o amor; Éder Rosa [33] afirma que o Bando de Brincantes é alegria, prazer e responsabilidade; Marlene Goidanich [34] diz que é um trabalho sério e muito musical que respeita a inteligência das crianças e Telmo Martins [35] o define como a união de pessoas que mantém o lúdico e a pureza do coração infantil, independente de idade. Já José Renato Lopes diz que

é um coletivo de pessoas que percebem o teatro como uma forma de brincadeira e que generosamente convidam, acolhem outros artistas e técnicos que acreditam acrescentarem algo em suas propostas. Em minha opinião, ainda é mais que isso, é uma trupe sonhadora e ao mesmo tempo com o “pé no chão” e muita simplicidade, muito respeito e carinho ao fazer artístico.

A brincante Beth Mann [36] declara:

Vesti a camiseta da ideia Bando, porque sabia que não era somente o Jogos.., nem somente o Canto de Cravo e Rosa ou Quaquarela , etc, mas uma ideia diferenciada de ensinar e envolver crianças, instigando a sua imaginação, apurando seus sentimentos e ajudando, com isso,  na formação do seu caráter. (…) ser brincante é não perder de vista este conceito, esta atitude diante da educação infantil.

Para ela, o Bando de Brincantes

pode ser uma pessoa, um grupo ou vários grupos, que se formam em torno de trabalhos específicos para crianças, que tem uma linha conceitual e pedagógica que os identifica, uma filosofia de relacionamento entre si e com o público.

Gosto de dividir experiências e de trocar ideias. Para isso, preciso trabalhar com pessoas que tenham atividades em lugares diferentes, com propostas diferentes, para estar sempre renovando os referenciais. A diversidade impregna minha prática sob todos os ângulos possíveis e, por isso, preferi constituir um bando. Nele, as pessoas poderiam participar da forma como se dispusessem, assumindo suas responsabilidades e realizando outros projetos extra bando, conforme seus interesses profissionais.

O depoimento de Ana Cláudia Bernarecki [37] contribui nesse sentido:

o rumo que meu trabalho tomou nos últimos 2 anos puxou meu olhar e minha dedicação de forma muito intensa para o circo, tanto que dentro de Canto de Cravo e Rosa, o fazer circense está muito presente na minha atuação

Pra mim, ser uma brincante e pertencer a esse bando é acreditar que novas brincadeiras sempre serão possíveis e que a velha brincadeira chamada Canto de Cravo e Rosa ainda é muito presente e viva dentro do Bando.

Minha experiência artística sempre esteve vinculada à cultura popular, em grande parte devido ao envolvimento do diretor Jessé Oliveira com a expressão do povo brasileiro. Assim, a palavra brincante, muito utilizada para designar os participantes de folguedos nacionais, me pareceu extremamente conveniente para a proposta que eu já vivenciava com diversos companheiros. As realizações do artista Antônio Nóbrega [38], o qual admiro sobremaneira, também serviram como inspiração.

Em 2005, o trabalho já envolvia artistas de diversas áreas e Brincante pareceu o nome ideal, pois indicava uma relação com o lúdico e com um acontecimento cênico, mas não necessariamente demarcava uma função artística específica. Lembro de ter apresentado a proposta do nome Bando de Brincantes, em momentos diferentes, para Jessé Oliveira, Everton Rodrigues, Toneco da Costa e Jorge Vieira, e todos acharam uma boa maneira de nomear nosso trabalho.

Ser brincante é estar disposto a fazer arte para crianças, é respeitar a criança e acreditar que seu desenvolvimento é vital para todos. É fazer a atividade/Espetáculo/Disco/Livro funcionar como um alicerce no todo da educação e da vivência infantil. Ver o mundo com os olhos da criança, sem nunca ditar caminhos ou soluções, mas sim, através da visão infantil. (Everton Rodrigues)

Miguel Tamarajó diz que um brincante é toda aquela alegria que é compartilhada entre todos os envolvidos, o bando e o público; Marcelo Rocha afirma que ser brincante é estar em cena brincando e Éder Rosa diz que é ser um artista feliz, tendo, em cada apresentação, um grande reconhecimento do público e dos amigos que fazem parte desse coletivo de arte. De minha parte, me encontrei no termo brincante e reconheço em nosso coletivo de arte muitos brincantes híbridos profissionalmente, como eu. Diga-se de passagem, esta é uma característica nada incomum nos artistas populares brasileiros.

Quando a professora Mirna Spritzer, em aula do mestrado, gentilmente, me chamou de trovadora, redigi um texto que foi aceito com alegria pelos colegas e que utilizei em minha qualificação. Achei interessante transcrevê-lo aqui, porque considero que me traduz de forma muito brincante.

A maioria das realizações do Bando de Brincantes é dedicada a crianças ou a profissionais que trabalham com elas. No entanto, nascido da diversidade, não existe uma ideia de que o Bando trabalhe exclusivamente com o público infantil. O certo é que a infância nos encanta e que sempre trabalharemos com arte para crianças.

O Bando me faz sair de casa com meus filhos. O Bando me faz desligar a TV. O Bando faz meus filhos saírem da casinha. O Bando me faz ligar a imaginação. (Marcos Eizerik) [39]

Bibliografia

Ref(v)erências:

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______________________.O significado do jogo na educação infantil. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Santa Maria. Programa de Pós-Graduação em Educação, Santa Maria, 1991.

______________________. Para além do jogo. Tese (Doutorado).Universidade Federal de Santa Maria. Programa de Pós-Graduação em Educação, Santa Maria, 1999.

GRAZIOLI, Fabiano Tadeu.“Canto de Cravo e Rosa, de Vivianeane Juguero: Apontamentos sobre dramaturgia e a criança leitora”. In: 5º Seminário de Literatura Infantil e Juvenil – Letramento literário e diversidade, 2012, Florianópolis. Anais eletrônicos do 5º Seminário de Literatura Infantil e Juvenil – Letramento literário e diversidade. Florianópolis: Editora da UFSC, 2012.

_____________________. Teatro de se ler: O texto teatral e a formação do leitor.Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2007.

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________________. Exercício criativo e inteligente. Jornal do Comércio, Porto Alegre, 11, 12 e 13 de junho de 2004. Caderno Viver. p. 3.

________________. Reencontro com o fascínio da cantiga infantil. Jornal do Comércio, Porto Alegre, 30 de agosto de 2009. Em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=6704> Último acesso em: 26 de dezembro de 2013.

____________________. Teatro infantil se recuperou nesse ano. Jornal do Comércio, Porto Alegre, 31 de dezembro de 2009. Em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=16291> Último acesso em: 26 de dezembro de 2013.

____________________. Qualidade dos brincantes. Jornal do Comércio, Porto Alegre, 22 de março de 2013. Em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=119672> Último acesso em: 26 de dezembro de 2013.

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_________________________. Brincadeira e conhecimento: Do faz-de-conta à representação teatral. Porto Alegre: Mediação, 2004.

_________________________. “Brincadeira na infância e construção do conhecimento”. In: HORN, Cláudia Inês et al. Pedagogia do brincar. Porto Alegre: Mediação, 2012.  p. 45-80.

Notas

[1] O capítulo original traz fotos dos espetáculos e profissionais citados. Para ter acesso às imagens, faça download da dissertação completa no link http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/97657

[2] Todas as declarações de artistas que participam do Bando de Brincantes, presentes nos textos dessa dissertação, são respostas daqueles que se dispuseram a responder à entrevista que enviei por e-mail, em novembro e dezembro de 2013.

[3] A disciplina de Estudos Sociais englobava aulas de Geografia, História, O.S.P.B. (Organização Social e Política Brasileira), além de Moral e Cívica.

[4] Oficina gratuita realizada pelo projeto Descentralização da Cultura, da Secretaria Municipal da cultura de Porto Alegre.

[5] Trabalho de composição de trilha sonora realizado com Roger Kichalowski.Vale citar que repercutiram nesse trabalho importantes conhecimentos adquiridos com Guilhermo Santiago, quando eu e Kichalowiski executamos a trilha sonora do espetáculo para crianças O Equilibrista (1998), realizado pelo Grupo Gromerô, sob direção de Gina Tocchetto, contando com roteiro de Jessé Oliveira e grupo, com base no texto homônimo de Fernanda Lopes de Almeida.

[6] Teatro Escola de Porto Alegre, fundado pelos atores Daniela Carmona e Zé Adão Barbosa.

[7]  Etudei composição com o professor Fernando Mattos, durante um semestre.

[8] De uma das cenas desse espetáculo, criei o monólogo Doutor, publicado no livro Contos de Abandono, pela Editora Libretos, em 2009.

[9] Consultar referências.

[10] Idem.

[11] Prêmios oferecidos pelo Palco Habitasul.

[12] Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

[13] A convite de Christian Benvenuti, que fazia a coordenação pedagógica do projeto.

[14] A FEBEM (Fundação Educacional do Bem Estar do Menor), hoje chamada de FASE-RS (Fundação de Atendimento Sócioeducativo) é um órgão do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, responsável pela execução das medidas sócio-educativas de internação e de semiliberdade, aplicadas judicialmente aos adolescentes que cometem ato infracional. Foi criada a partir da Lei Estadual nº 11.800, de 28 de maio de 2002, em substituição à Lei nº 5.747, de 17 de janeiro de 1969.

[15] Grande volume de dinheiro.

[16] Realizado na FATO – Faculdades Monteiro Lobato, em Porto Alegre.

[17] Contando com a assessoria e participação dos professores Jessé Oliveira e Hamilton Braga, além dos demais professores que criaram as propostas específicas de cada disciplina.

[18] Ilustradora dos livros Jogos de inventar, cantar e dançar e O Macaco Bacana.

[19] Ator/bonequeiro do espetáculo Jogos de inventar, cantar e dançar, sendo o responsável, junto com Carmen Lima, pela criação, confecção e manipulação de diversos tipos de bonecos, além de atuar junto aos demais brincantes em cena.

[20] Operador de luz (stand by de Miguel Tamarajó) e atual assistente de produção no espetáculo Quaquarela.

[21] Segundo o site Wikipédia, a tradução literal de dialética significa “caminho entre as ideias”. Consulta realizada no dia 15/12/2013, no link ‘http://pt.wikipedia.org/wiki/Dial%C3%A9tica’.

[22] Sindicato dos Comerciários.

[23] A Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991) é a lei que institui politicas públicas para a cultura nacional, como o PRONAC – Programa Nacional de Apoio à Cultura. Essa lei é conhecida também por Lei Rouanet (em homenagem a Sérgio Paulo Rouanet, secretário de cultura de quando a lei foi criada). Consulta realizada no dia 23/12/2013, no link ‘http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_Rouanet’.

[24] FUMPROARTE – Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre (Prefeitura Municipal).

[25) TEATRO LIDO – CICLO DE LEITURAS DE TEXTOS TEATRAIS DA AMÉRICA LATINA, realizado por Produções Mezcla/Espaço Mezcla. Acontece todos os anos, desde 2003 e, até dezembro de 2013, participaram 92 dramaturgos de 16 países da América Latina. O projeto foi premiado duas vezes pela Prefeitura de Juiz de Fora; recebeu o prêmio Myrian Muniz/FUNARTE (Fundação Nacional de Artes: instituição de apoio e fomento à arte vinculada ao Ministério da Cultura); o prêmio CENA MINAS/Secretaria de Estado da Cultura e o prêmio PRO CULTURA/Ministério da Cultura.

[26] Os prêmios Açorianos e Tibicuera são realizações da Secretaria Municipal da Cultura da Prefeitura de Porto Alegre.

[27] Do livro Casos do Romualdo (consultar bibliografia).

[28] Ator do espetáculo Canto de Cravo e Rosa.

[29] Músico do espetáculo e do CD Jogos de inventar, cantar e dançar (sendo o arranjador da música Canção do Bebê); diretor e arranjador musical do espetáculo Canto do Cravo e da Rosa; diretor, músico, atuador e arranjador musical do espetáculo Quaquarela; músico e arranjador do CD Natal Brincante.

[30] Produtor musical do CD, diretor musical do espetáculo e músico no trabalho Jogos de inventar, cantar e dançar.

[31] Percussionista brincante de Jogos de inventar, cantar e dançar.

[32] Iluminador dos espetáculos Jogos de inventar, cantar e dançar e Quaquarela.

[33] Ator do espetáculo Canto de Cravo e Rosa e Quaquarela, no qual realizou preparação corporal e criação e confecção de materiais cenográficos. Atua como oficineiroe artista em diversas iniciativas, além de fazer produção executiva, junto comigo, em todos os trabalhos.

[34] Preparadora vocal do espetáculo Canto de Cravo e Rosa.

[35] Diretor técnico do programa de rádio Ding, Ling, Rataplá, produtor de áudio, cantor e criador de arranjos vocais em Natal Brincante e diretor técnico e locutor de áudios promocionais e institucionais de espetáculos e eventos.

[36] Cantora brincante (vocais), no espetáculo e no CD Jogos de inventar, cantar e dançar.

[37) Atriz do espetáculo Canto de Cravo e Rosa.

[38] Antônio Nóbrega nasceu em Recife, Pernambuco, Brasil, em 1952. É violinista desde criança. No final dos anos 1960 participava da Orquestra de Câmara da Paraíba e da Orquestra Sinfônica do Recife quando, convidado por Ariano Suassuna, passou a integrar, como instrumentista e compositor, o Quinteto Armorial – grupo precursor na criação de uma música de câmara brasileira de raízes populares. A partir dos anos 1970 percorreu quase todo o Brasil estudando as manifestações populares, aprendendo cantos, toques instrumentais, danças, modos de representar dos brincantes, folgazões e demais artistas populares. Fruto desse envolvimento, a partir de 1976 começou a desenvolver um estilo próprio de concepção em artes cênicas, dança e música, a partir da cultura popular. Juntamente com sua mulher, Rosane Almeida, idealizou e dirige, em São Paulo, o Instituto Brincante, local de cursos, oficinas, mostras e encontros que procuram apresentar aos próprios brasileiros um Brasil ainda pouco conhecido. Fonte: http://www.zntonionobrega.com.br/biografia.php

[39] Diretor da Propaganda Futebol Clube.