Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 28.06.1980
Mágicas confusas
A pouca comunicabilidade de O Segredo das Mágicas, peça de Alexandre Vieira e Maria Cristina Brito, em cartaz no Teatro Opinião, deve ser debilitada a total fragilidade da estrutura do texto. O desenvolvimento do espetáculo é difícil, meio emperrado: é exigido do espectador um sacrifício muito grande para permanecer cúmplice do que a cena propõe. E esse sacrifício é causado, basicamente, pelo aspecto confuso da trama. O problema maior é o da própria história. Os autores estão pretendendo dizer o que, exatamente?
Em, O Segredo das Mágicas conta-se a história de um espantalho roubado do mundo rural e levado para a cidade, a fim de, explorado pelos ladrões vender cura milagrosa ao povo. A seguir, o espantalho passa a ter o poder de produzir alimentos numa cidade onde o povo tem fome por causa da seca. (O espantalho havia levado prosperidade turística à cidade, mas, “por causa da sua tristeza, não conseguiu mais controlar o tempo e a seca chegou”.) Então, o espantalho se transforma num mágico e assume o poder local. Em seguida vem um golpe de Estado e tomam o poder do espantalho, que é expulso da cidade verbaliza, então, a “mensagem” da peça: e um dos atores O Segredo das Mágicas, cada um descobre de acordo com as suas necessidades. (!!). E o povo continua com fome…
Confesso que para mim foi muito difícil descobrir o segredo desse espetáculo; confesso que, no início, eu procurei bastante ligar coisa com coisa. Inutilmente. Já ao final, confesso de novo, descobri que já não tinha mais nenhuma necessidade de descobrir o segredo das mágicas: havia perdido o interesse. E, como não olho apenas para o meu umbigo e olho sempre para as crianças que estão no teatro, a impressão que tive, vendo a reação (!!) delas, é que também a plateia infantil se desinteressara. A falta de clareza ao se contar uma história para crianças é um pecado mortal. Em O Segredo das Mágicas desenvolve-se de modo chocho uma história sem uma linha de desenvolvimento baseada no lógico nem num progressivo interesse. (Aliás, mesmo em se tratando de um mundo mágico, a trama pede uma lógica própria. Alice no País das Maravilhas é um bom exemplo disso). Sem acompanhar o fio da meada, a plateia se envolve apenas com circunstanciais comicidades, com figurinos criativos (de quem?) e com música esse que tenta, inutilmente, amarrar o espetáculo. Pelo que a peça traz de informação e expressividade perde-se tempo demasiado. A direção, coletiva, embarcou na confusão e na falta de ritmo do texto. No ano passado esse grupo nos ofereceu um espetáculo interessante – O Guerreiro de Prata. Agora houve um escorregão. Esperamos o próximo passo.