Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 19.07.1980
Totalmente sem cor
O Arco-Íris que não tinha cor, peça de Raimundo Alberto, em cartaz no Teatro Gláucio Gill, pode servir de exemplo para qualquer aluno de teatro ao mostrar como um espetáculo consegue ser tão absolutamente inexpressivo. Ao final eu me perguntei se a história de Raimundo Alberto (um autor algumas vezes premiado em concursos de dramaturgia) era realmente sem sentido ou se a encenação dirigida por Fayel Hochman foi responsável por fazê-la ficar totalmente confusa e desconexa. Para responder só lendo o texto; e não foi possível obtê-lo antes de escrever esta coluna.
O que caracteriza a montagem de Fayel Hochman é a mais absoluta falta de interesse e, no dia em que assisti ao espetáculo, as crianças estavam totalmente dispersas. O único instante de interesse, que atraiu a criançada, foi quando surgiu no palco um balão de encher voando sozinho e chiando. O leitor vai concordar que, na verdade, é muito pouco.
Parecendo influenciado pelo arco-íris da peça, o diretor fez um espetáculo absolutamente descolorido. E não estou falando de cor propriamente dita, mas de brilho, de ênfase, de força. A encenação não tem clima, não tem ritmo, não tem emoção. O espectador não se torna cúmplice em momento algum do que está acontecendo no palco. E, a partir daí, instala-se o desinteresse. O inexpressivo, que caracteriza o espetáculo, está em todos os elementos: do visual ao musical. Pois não é que o diretor se dá ao luxo de ter música ao vivo no espetáculo e acaba escondendo os músicos na coxia? O canto, quando vem, é fraco e chocho, da mesma forma que o acompanhamento musical. Há inclusive gratuidades, que só servem para deixar o espetáculo ainda mais desconexo: por que, por exemplo, o personagem Zangão tem que desmunhecar tanto? Há um estilo (??) de desenvolvimento da encenação onde nada se liga a nada: de repente, surge um número musical (sem graça e sem interesse algum!). E além de tudo, o texto de Raimundo Alberto – no que consegui entender – propõe comportamentos absurdos para seus personagens. Vejam bem: Zangão e Colibri amam Ritinha. Ritinha está triste porque não sabe onde se encontra seu grande amor (um terceiro personagem). O que fazem Zangão e Colibri? Resolvem alegrar Ritinha. E como alegrá-la? Encontrando para ela, o seu (dela) grande amor que é na realidade, o grande rival de Zangão e Colibri. Faz sentido? Que tipo de manifestação de comportamento o autor pretende passar para as crianças? É tudo muito esquisito. E indiscutivelmente, descolorido.