Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 11.10.1980
Novo espaço em Santa Teresa
Depois das tentativas de Paschoal Carlos Magno com seu teatro Duse, mais uma vez surge um empreendimento ousado e corajoso beneficiando os moradores de Santa Teresa: o Teatro Dirceu de Mattos, localizado na Rua Barão de Petrópolis 897, em frente ao túnel da Rua Alice. Como no caso do Teatro Duse, o Teatro Dirceu de Mattos também esta dentro de uma casa, onde moram seus proprietários.
Entretanto, apenas o empreendimento empresarial ousado não basta para que o público descubra, no Teatro Dirceu de Mattos, mais uma alternativa na programação. É necessária a existência de uma boa divulgação. E a existência de um ousado empreendimento empresarial aliado a uma boa divulgação também não é suficiente. É necessário que exista no Teatro Dirceu de Mattos um nível de qualidade que transforme uma promoção de características ainda muito familiares num trabalho apto a disputar o mercado em igualdade de condições. Sentado na plateia quase vazia, domingo passado, senti o alto grau de coisa (mal) improvisada, um clima de “ação entre amigos”, de brincadeira familiar domingueira que, na realidade, não carrega o mínimo de condições para transformar aquele espaço num teatro. Atualmente está sendo, quase muito, um quintal razoavelmente sofisticado.
O espetáculo a que assisti foi Crie Brincando com Alegria, texto e direção do grupo Teatro Sorriso da Criança. Confesso que não tenho visto, nos últimos tempos, nada tão primário. Dava, inclusive, a impressão de que os atores não estavam ainda prontos para a estreia; eles representavam inseguros como se fosse um ensaio em sua fase mais inicial. Crie Brincando com Alegria é, na verdade, um acúmulo de “como não se deve fazer”. O espetáculo tem um visual muito feio, não tem a menor noção de ritmo, é todo descosido. Em vários momentos, o absurdo toma conta; o palco fica vazio, não acontece nada e, mal escondidos atrás do pano, os atores caminham, entram e saem, conversam, discutem o que fazer etc. A música é fraca e mal cantada; a direção explora corporalmente a expressão corporal de um ator que não tem expressão corporal alguma; é o texto, também coletivo, não tem o menor senso dramático, não trabalha com conflitos ou com tensões, não cria o mínimo interesse para a plateia. Em todo esse acúmulo de aspectos bisonhos, entretanto, há uma atriz (?) jovem que transmite uma boa carga de energia e de comunicação.
Para que o Teatro Dirceu de Mattos passe a servir aos moradores de Santa Teresa, sua direção precisa adotar um esquema profissional para seus espetáculos, deixando de lado a improvisação, a falta de criatividade e a noção de que, para criança, basta qualquer bobagem.