Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 18.10.1980
Entre no bloco
Um excelente divertimento para as crianças está em cartaz no Teatro João Caetano; Bloco da Palhoça. A pesar de se anunciar como um musical infantil (dando a impressão de que é uma “peça musical infantil”), Bloco da Palhoça, não é uma peça: é um show de música. Na verdade, os elementos não musicais do espetáculo deixam muitos a desejar, como a direção pouco imaginativa, frouxa e sem garra de Benjamim Santos, e como os textos de ligação entre as músicas, de Ana Maria Machado, que nada acrescentam. Exceção feita para os figurinos e os adereços de Maria Carmem – estabelecem com a plateia uma relação visual coerente com o tipo de clima que os músicos transmitem; além de serem bonitos, alegres, vivos.
O leitor perguntará; mas se a direção não é boa e o texto nada acrescenta, porque o Bloco da Palhoça é um divertimento excelente? Por causa da música, da maneira como essa música é transmitida; por causa da comunicação que se estabelece entre o palco e plateia – apesar de o Teatro João Caetano ser péssimo para este tipo de encenação: o som é ruim, a comunicação fica mais difícil por causa do fosso da orquestra e o chão, todo atapetado, tira uma das grandes forças do show: o som de uma comunicação global da plateia marcando com os pés os passos da catira. O espetáculo começa bonito, mas frio; e assim vai seguindo, só esquentando mesmo no solo de apresentação do charango. (Aliás, na apresentação dos instrumentos, deixaram de lado a cuíca (que existe no disco) e que tem uma grande força comunicativa com as crianças através do humor). A encenação segue bem com os exemplos de percussão feitos com a boca. Em seguida cai numa extrema monotonia com a história – sem interesse como texto e sem interesse como encenação – da moça na janela. Cresce novamente com A Moça e a Mosca, cria um maravilhoso carro de boi, faz um gostoso trenzinho e, assim, o que começou muito duro, vai se soltando, o espetáculo se tornando mais simpático, mais envolvente. O momento da catira é ótimo, mas perde-se o barulho dos passos no chão. A música do eco que vem a seguir é um dos melhores instantes do show. E talvez aí devesse ser o final, aproveitando-se um momento de pique entre e palco e plateia. Mas não; o espetáculo acaba para baixo, chocho.
Entretanto, a seleção das músicas e a maneira descontraída como são cantadas pelo Bloco da Palhoça fazem a força do trabalhador e compensam quaisquer equívocos. Fica uma observação final; a primeira vez que vi o show do Bloco da Palhoça foi anos atrás, no auditório do Centro Educacional de Niterói. Não havia textos “teatrais” e sim uma conversa coloquial entre os músicos e as crianças; não havia uma direção individualizada, mas uma harmonia do início ao fim. Em síntese: o espetáculo era mais pobre e menos sofisticado, porém mais criativo, mais comunicativo. Muito melhor. O Bloco da Palhoça, formado por Beatriz Bedran, Freddy Anrique e Ricardo Medeiros, se sente mais à vontade no tom coloquial do que no tom grandiloquente de superprodução.