Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 1979
Uma verdade difícil de acreditar: um ótimo programa por apenas Cr$ 3,00
Pedro é um menino que quer viajar até as estrelas; encontra-se com Vagalume e, através dele, percebe que é possível realizar o seu sonho. Vagalume informa a Pedro da existência do planetário e de seu funcionamento. E, por meio do planetário, Pedro e Vagalume viajam pelo espaço e vão até a Lua.
Atração do Planetário da Gávea para crianças de quatro a sete anos, Pedro e o Vagalume é apresentado às 16 horas, aos sábados e domingos. As crianças (e todo o público) embarcam junto com os dois e, depois de uma rápida visão da cidade do Rio de Janeiro com suas Zonas Sul, Norte, Leste e Oeste, (quando os pequenos começam a se agitar apontando para todos os lados e vibrando sempre com a setinha voadora) começa o que se pode chamar de grande deslumbramento. Depois da contagem regressiva e da partida do foguete cria-se a impressão perfeita de uma viagem pelo céu. (Meu filho de cinco anos deixou-se carregar pela fantasia e, por alguns instantes, acreditou que sua poltrona fazia parte de um imenso foguete e que estava em céu aberto, dirigindo-se para a Lua).
É bonito e emocionante ouvir as exclamações absolutamente espontâneas de deslumbramento da criançada, principalmente se levarmos em consideração que tais exclamações tem permanecido totalmente ausentes da plateia que assiste às peças infantis.
Mesmo sendo para crianças de quatro a sete anos (de maior dificuldade para apreensão de noções espaciais e planetárias) Pedro e o Vagalume poderia ser um pouco mais ambicioso. Mais ambicioso no seu tempo de duração, por exemplo, já que demora muito menos que o tempo de concentração de uma criança desta idade vivendo uma situação tão especial; e mais ambicioso também na própria historinha. Ao invés de manter apenas como peças decorativas, criadas para estabelecer um vínculo com a platéia infantil e leva-las a embarcar na proposta, o Planetário poderia explorar melhor o didatismo (bem suavizado) e o deslumbramento, através de uma história mais rica, onde também a trama e o seu desenvolvimento fossem motivos de interesse. Há um desnível muito grande entre a viagem e aquela solução fácil e pouco expressiva dos slides.
O Planetário está de parabéns pela sua dedicação à plateia infantil. Esperamos que os programas, ao se renovarem, se enriqueçam cada vez mais. Esperamos também que não seja alterada essa política de preços. Levar o filho ao Planetário é, sem dúvida, o programa mais barato e de qualidade existente no Rio de Janeiro. Crianças e adultos pagam apenas Cr$ 3,00. Não é erro de revisão, não: é três mesmo. Esperamos, finalmente, que o Planetário tenha uma divulgação mais eficaz, principalmente junto às camadas de menor poder aquisitivo que nem sabem (e que certamente vão duvidar até o momento de pagar) que existe um programa tão bom e tão barato; que nem sabem que o Planetário existe. Não sei se há um convenio com as escolas públicas (principalmente as de clientela pobre). Se há, parabéns ao Departamento de Cultura do Município, responsável pelo Planetário. Se não há, deveria haver.