Critica publicada na Folha de São Paulo
Por Tatiana Belinky – São Paulo – 13.07.1980
Lenços ao Sopro do Ventoforte
Quando Ilo Krugli veio da Argentina, um “vento forte”, refrescante e inovador soprou no Teatro Infantil brasileiro. Como um caleidoscópio, como fogos de Bengala, explodiu no Rio de Janeiro, em 1974, a História de Lenços e Ventos, que viria a marcar uma nova era e a ser um divisor de águas, a mostrar novos rumos e novas formas ao nosso teatro para crianças, e adolescentes, e jovens, e adultos, e educadores. Já muito imitado mas ainda não igualado.
Haurindo inspiração nos próprios folguedos infantis, nas brincadeiras singelas de fundo de quintal, no faz-de-conta livre e espontaneamente poético da criança, na criatividade infinita da sua imaginação, o enorme talento e impecável competência profissional de Ilo Krugli – autor, diretor, cenógrafo, figurinista, titeriteiro e ator – secundado por uma equipe de escol, criou essa ciranda de encantamento que é História de Lenços e Ventos.
Depois desse acontecimento, o Grupo de Teatro Ventoforte mostrou vários outros espetáculos, para todos os tipos de público, todos de alto gabarito, todos muitas vezes premiados, no Rio, em São Paulo, em Curitiba, e até no Exterior. E agora, finalmente, toda essa lindeza chega a São Paulo, para deleite do público paulistano. Em boa hora o Grupo resolveu instalar-se na nossa capital, com sede própria: a Casa do Ventoforte, com seu trabalho, suas oficinas de experimentação, suas aulas de teatro, expressão, dança e outras coisas mais – na rua Tabapuã, 1569.
Dizer que o espetáculo em cartaz no Ruth Escobar é ótimo, é chover no molhado: ele é lindo, harmonioso, um festival de fantasia, magia, música, dança, canto, imaginação; alegre como uma festa, embalador como um acalanto; poético como um sonho. E de tamanha riqueza de ideias e acontecimentos, que daria folgadamente para dois espetáculos completos e plenamente satisfatórios. Ele tem, generosamente, mais de hora e meia de duração, quase demais para o nosso público, digo as crianças menorzinhas.
Não é preciso contar do que se trata, qual é o assunto dessa montagem esbanjadora, que usa mil e um recursos – trajes e cenografia, objetos e bonecos, lenços e papéis, sombra e luz e música e pincel e tinta e sei lá o que mais. E se apoia no trabalho empenhado de um grupo de atores entrosadíssimo, homogêneo e comunicativo, entre os quais figura com destaque o próprio autor-diretor. Basta dizer, convidar: vão lá todos, a família inteira, vão ver e se deliciar com essa linda História de Lenços e Ventos.
E se parece que estou entusiasmada, é porque estou mesmo.
Serviço
História de Lenços e Ventos, de Ilo Krugli
Direção, Cenários, Figurinos, e participação de Ilo Krugli
Música de Beto Coimbra e Caíque Botkay
Direção Musical de David Tygel
Com Damilton Viana, Márcia Correa, Marilda Alface, Paulo César Brito, Paulo Freire, Sônia Piccinin e Tião
No Teatro Ruth Escobar, rua dos Ingleses, 209.
Sábados às 16h, domingos às 10h30 e 16horas
Realização do Grupo de Teatro Ventoforte