Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 08.10.1977
O jardim da fantasia
O Jardim das Borboletas, em cartaz no Teatro Tereza Raquel, é um espetáculo extremamente simpático e que estabelece uma eficaz comunicação com o público. A partir de um texto quase inócuo de André José Adler (mas que tem a grande vantagem de não pregar verdades duvidosas), o diretor (o próprio autor) criou uma encenação alegre, gostosa, com charme. A montagem baseia-se, principalmente, na beleza singela de suas imagens. Cria-se um clima agradável, receptivo e, para isso, é essencial a boa exploração dos elementos da linguagem teatral: interpretação, figurinos, cenário, música.
E claro que, sendo uma atividade marginalizada, o teatro infantil tem essa exploração dos elementos sempre limitada por fatores externos. Por isso a plateia é brindada com a visão de feias e agressivas caixas de som pretas, logo no proscênio. E é brindada por um piano, que, como as caixas, nada têm a ver com o gostoso cenário. (O piano ainda conseguiu ser coberto por um pano. Mas o importante é que essas intromissões visuais prejudicam profundamente a estética do espetáculo. E prejudica também aos atores e ao público, obrigados a conviver com uns trambolhos definitivos).
O elenco formado por Lígia Diniz, Júlio Braga, Duse Nacarati, Renato Pupo, Hileana Menezes, Arlindo Montanha e Haroldo Pardal, atua com bastante firmeza, no geral. Pena, mais uma vez, que os atores sejam derrubados pelo playback. Com exceção de Júlio Braga (Grilo) que realmente canta junto da fita gravada (o que lhe permite um trabalho com mais verdade) todos os demais deixam tão patente que estão fingindo cantar que isso determina uma grande quebra no envolvimento do público. O início do espetáculo, então, é muito chocho, pois na canção do jardineiro ainda não estamos envolvidos pela encenação e então fica mais clara ainda a falsidade da ação desenvolvida.
O espetáculo tem sua força tirada também do bom trabalho musical realizado pelos compositores Eduardo Souto Neto, Taiguara, Zé Rodrix, Jorge Omar e Paulo Imperial.
Montagem muito bem cuidada, O Jardim das Borboletas carrega um clima extremamente simpático. A dança dos namorados e o nascimento de Cris são exemplos disso. Ao final, procura-se trazer o público da fantasia para a realidade: A vida aí não é bem assim. Mas tente lembrar do nosso jardim. O quê, de qualquer forma, acaba sendo um chamamento à realidade feito com muita fantasia.