Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 15.06.1975

Barra

O espetáculo é limpo e bem cuidado: os atores agem com segurança e expressividade. Mas fica, ao final, a impressão de um esforço inútil, devido a pouca consistência do texto. O autor José Roberto Mendes (também diretor e autor das músicas) não comete os clássicos crimes contra a inteligência e a sensibilidade infantis. Pelo contrário, a intenção da peça é a de criar condições de abertura (“Gosto de conhecer aquilo que não conheço / gosto de ver as coisas pelo avesso. ” Ou ” E tudo que acontecer será mais fácil resolver / pois estamos preparados para o que der e vier.”). Todavia, a pura intenção não chega a se cristalizar, e que o que era um bom ponto de partida (um personagem que gosta de experimentar versus um personagem que só gosta de imitar) é abandonado para dar lugar às aventuras do Dr. H2O. O que poderia ser uma proposta nova acaba retornando a um lugar comum no teatro infantil: os fracos que se aliam para lutar contra o mais forte.

José Roberto Mendes tem um resultado mais feliz como diretor: seu espetáculo é agradável, dinâmico, mostra uma visível preocupação que algumas são bem expressivas como as criadas para as cenas do enquanto vou explicando o senhor vai racionando e precisamos pensar em alguma coisa. Como músico, seu trabalho também é eficaz, destacando-se a canção da gênia. A direção poderia  explorar um pouco mais a  máquina no escuro (principalmente se a platéia é de crianças) e dar um certo sentido a constante (e, por isso, desgastante) brincadeira com os caixotes.

Outro fator positivo da direção está na condução do elenco. Os atores apresentam um tom de homogeneidade, estando todos no mesmo nível bom, difícil de ser encontrado na maioria das peças infantis. O elenco dá vida aos personagens; a dicção é boa e o público entende as letras das músicas. Tomil (Peteleco) e Albee Amós (Eco) são os mais sacrificados na medida em que seus personagens são os mais difíceis de serem trabalhados (há sempre muita dificuldade para um adulto encontrar a chave da representação quando interpreta uma criança). Mas, mesmo assim, os dois saem-se bem e, se não brilham, também  não saem aos pulinhos e falando tatibitate. Os que têm mais chances aproveitam mais: Nina de Pádua (Guguta) Beth Erthal (Bicudo) e Perfeito Fortuna (Dr. H20) conseguem ser mais expressivos, mais engraçados, mais comunicativos, destacando-se o domínio do tempo, de Nina Pádua, e a limpidez do desempenho de Beth Erthal.

Os figurinos de Beth Erthal e Diva Mendes são felizes quanto aos personagens Guguta (onde há muito humor), Bicudo e Dr. H2O; mas são pobres no que se refere às crianças. O cenário – criação do grupo – ficou impossibilitado de ser colocado no palco porque a peça adulta não deixou um mínimo de espaço, em mais uma clara demonstração do marginalismo em que vive o teatro infantil. Mas a imaginação conseguiu suprir essa deficiência e a montagem assume, com coerência, o cenário da outra peça em cartaz. Pode parecer um sonho, mas seria muito bom se as autoridades responsáveis pela cultura, nesse novo Estado, espalhassem algumas pequenas salas de espetáculos pelos bairros apenas para servir às montagens infantis, isso melhoria o nível das encenações  descentralizaria o teatro infantil da zona Sul, indo de encontro a um público imenso mas sempre desconsiderado.

Recomendações:
A Viagem de Barquinho, no MAM, último dia; Criançando, na Casa Grande, últimas apresentações; Fantasia e Realidade na Música de Pink Floyde, no Colégio Santo Inácio, apenas para crianças maiores, às 21h30h; Estória da Moça Preguiçosa, no Teatro Quintal, Niterói; Pluft, no Tablado.