Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 25.03.1975

Barra

O Palhacinho da Loja ABC

O Palhacinho da Loja ABC, recém-estreada no Teatro da Galeria, é um exemplo típico do que acontece com a maioria das produções teatrais destinadas as crianças: três jovens supostamente bem intencionados entregam ao público um trabalho em que está patente a falta de informação técnica (quanto ao teatro propriamente dito); e a falta de informação no aspecto da educação e da psicologia infantis (quanto a um teatro que é feito para crianças). O autor Carlos Adib (também ator e diretor) criou um texto onde se nota a ausência das qualidades mínimas necessárias: os personagens são estereótipos (a menina pobre é morena e o público torce por ela), mesmo que ela seja ladra e mentirosa; a menina rica é loura, e o público não gosta dela, mesmo que ela não tenha feito nada de errado); não há clima; não há ritmo; não há um desenvolvimento progressivo; o esquema do texto dramaturgicamente sem recursos, a peça caminha na base do entra-e-sai dos personagens (no dia da estreia, inclusive, os personagens se lembraram de sair, mas se esqueceram: o palco ficou vazio algum tempo enquanto os atores, nas coxias, procuravam recordar de quem era a próxima cena!); e, finalmente, a peça apela muito para a participação entre aspas das crianças (“Vocês querem comprar o palhacinho?”; “Não digam a ninguém que eu sei falar, combinado?”; “Quando tenho um problema, gosto de consultar as crianças: o que é que vocês acham?”)

A direção – também de Carlos Adib – não consegue vencer as dificuldades impostas pelo limitado espaço do palco. As entradas e saídas são repetitivas, iguais, monótonas. O espetáculo não cria interesse e os conflitos não conseguem ultrapassar o proscênio e chegar até a plateia. A luz é primária, mesmo levando-se em consideração o fato de que não se pode alterar a posição dos refletores (é nessas horas que entra a imaginação). O diretor consegue obter um bom clima no final do espetáculo, mas a transformação das meninas em chacretes é cenicamente grotesco. Porém, seu maior defeito está na condução do elenco. Enquanto o próprio Carlos Adib, como o Palhacinho, consegue ter a interpretação mais correta (tem certa verdade, o corpo funciona bem, tem bom tempo), apesar de pouco comunicativa, as meninas Fátima Malheiros (Cátia) e Rubélia Maxwell (Sandra) mostram um trabalho bem pobre. Fica patente a falta de orientação das duas (como atrizes) e de Carlos Adib (como diretor) no que se refere à técnica de interpretação. Elas representam aos pulinhos, não sabem dizer um texto (nunca ouviram falar em pausa), não sabem se movimentar ou se colocar, utilizam recursos clichês e não conseguem se comunicar. È possível que as duas tenham talento, mas o que se vê, no Teatro da Galeria, é uma total desinformação. Os figurinos de Carmem Isaias funcionam, sendo que a roupa e maquilagem do palhaço são visualmente bem expressivas. O cenário (responsabilidade do grupo) é paupérrimo, tanto material quanto cenicamente. Não ajuda em nada o texto, é feito e, sendo formado por três elementos, apenas um é utilizado durante toda a peça, donde se conclui que os elementos restantes são totalmente gratuitos. E, se o grupo pretende ser sofisticado colocando palavras em francês no cenário, que, pelo menos, abra o dicionário. Bombonier é invenção. A não ser que seja apenas um recurso para deflagrar a fantasia das crianças…

Recomendações da Coluna:

Com pequenas restrições: Você Tem um Caleidoscópio?; A Viagem do Barquinho A Varinha do Faz de Conta.